A situação vivida por Araguari reflete de maneira intrigante a fábula "O Rei Nu", de Hans Christian Andersen, mas com um toque de realidade ainda mais denso e obscuro. Na fábula, um rei vaidoso é enganado por dois trapaceiros que lhe vendem uma "roupa invisível", que só poderia ser vista por pessoas inteligentes e dignas. Temeroso de parecer incompetente, o rei desfila pelas ruas com a "roupa", enquanto todos, por medo ou interesse, fingem vê-la, até que uma criança inocente grita que o rei está nu, expondo a verdade que todos evitavam.
Em Araguari, no entanto, o "rei nu" não é um político, mas sim um poderoso empresário, cujas ações silenciosas e calculadas lhe permitem manipular os políticos da cidade como marionetes. Ele controla a estrutura política, fazendo de tudo para manter sua hegemonia e evitar a ascensão de qualquer voz que possa confrontá-lo — como no caso da eleição recente, onde ele fez esforços para impedir que um único vereador de oposição fosse eleito, uma figura que representa a "criança renitente" da estória de Andersen.
A sociedade de Araguari, assim como o povo que admirava as "roupas" do rei, vive anestesiada pelas supostas bondades desse empresário, que, na verdade, está mais interessado em matar seu insaciável apetite por poder e riqueza. Como um predador astuto, ele se alimenta dos recursos públicos, expandindo sua influência a cada movimento, enquanto os cidadãos contentam-se com migalhas, preferindo não ver a realidade diante de seus olhos.
Entretanto, como na fábula de Andersen, a verdade não pode ser sufocada para sempre. A eleição de um opositor na Câmara simboliza o momento em que alguém, como a criança da fábula, terá a coragem de bradar que o "rei está nu", revelando a realidade que todos preferem ignorar. Esse grito, por mais solitário que seja, poderá ser o ponto de partida para o despertar da consciência coletiva em Araguari, rompendo finalmente a ilusão que manteve a cidade subjugada por tanto tempo.
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