No Facebook, o repórter João Carlos de Almeida, em tom de desabafo, relata a desagradável, porém comum, situação por que passa a família de uma pessoa que necessita de cuidados médicos na cidade. Abre aspas pra ele:
"A situação da saúde neste País passou do limite da falta de respeito aos pacientes e as famílias. Em Araguari as coisas parecem ainda pior, não estamos questionando de quem a culpa, se é do SUS ou da secretaria Municipal. Mas entenda bem este caso, a três dias ocorreu um acidente grave envolvendo um capotamento de um veículo Fiat Uno e o condutor foi atendido pelo Corpo de Bombeiros sendo encaminhado em estado grave para o Pronto Socorro Municipal. Até ai tudo bem todos os procedimentos foram tomados, agora que vem o motivo da revolta de familiares, o paciente Ricardo Gomes Ferreira de 30 continua aguardando uma vaga para ser encaminhado para um hospital para receber um tratamento adequado. A vítima não sente os movimentos das pernas e sofreu traumatismo craniano e segundo informações de familiares continua na maca em que foi atendido pelo corpo de bombeiros sem a mínima condição e respeito. Hoje por volta das 6: 30 hs recebi em minha residência um irmão da vítima bastante emocionado e revoltado com descaso. O irmão pedindo socorro disse que não sabe a quem recorrer, mas não aguenta mais ver a vítima jogado daquela forma aguardando um encaminhamento que nunca sai e a qualquer momento morrer a mingua, esta foi a palavra usada pelo irmão da vítima que reside no bairro Independência."
Caro João e queridos leitores, ouso meter a colher onde não fui chamado...
Primeiro, realmente a saúde pública é um problema de todo o país. Mas, o fato de ser nacional, por si só, não justifica as dificuldades enfrentadas pela população de cada cidade. Muito menos as agruras experimentadas pelos araguarinos. O poder público local também é responsável por investir mal na quantidade e qualidade do gasto com a saúde.
Segundo, considero um erro não procurar os motivos para o caos na saúde. Já conhecemos o problema. Resta enfrentá-lo. De que adianta conhecê-lo, mas não fazer nada? Isso os políticos já fazem muito bem por nós.
Terceiro, essa fuga de buscar as causas das mazelas da saúde é bastante comum. Especialmente, em Araguari. Parece que as pessoas têm medo de apontar culpados e sofrer represálias. Uma prova disso está no fato de o político apontado como responsável pelo não funcionamento do Hospital Municipal estar muito bem colocado nas pesquisas eleitorais para deputado federal na cidade. Outra prova? Os responsáveis pelo não funcionamento do mamógrafo público durante mais de um ano na gestão passada saíram do fato com suas fichas limpas. Sequer devolveram o dinheiro gasto com pagamento pela sua manutenção não realizada (o equipamento estava encaixotado e lacrado). Mais uma? Não aconteceu absolutamente nada com aqueles agentes públicos municipais que, no ano passado, culposa ou intencionalmente, se envolveram com os criminosos investigados pela Operação Tarja Preta, em Goiás, por fraudar, entre outros atos, a compra de medicamentos. Medicamento faz parte da saúde pública. Se pagar mais caro, vai faltar dinheiro para comprar outros remédios ou aplicar em outras áreas da saúde.
Quarto, em Araguari, tenho percebido ser muito comum os cidadãos buscarem as redes sociais e a imprensa, procurando soluções para casos individuais de mal atendimento na saúde pública. Isso mostra que o cidadão não confia mais no sistema público de saúde. Busca fora dele a solução. Daí aparecem os políticos nem sempre bem intencionados para ajudar. Auxiliam, muitas vezes, para evitar a repercussão negativa do fato ou para amealhar alguns votos no futuro. Socorrem um isoladamente, mas não pensam na solução do problema de todos. De que adianta o vereador bonzinho "ajeitar" um exame para um paciente, mas ao mesmo tempo ser negligente engavetando a investigação da quadrilha da Tarja Preta? Qual a serventia de o prefeito posar de bom moço e conseguir a internação para um doente se, ao elaborar o orçamento, ele priorizou os gastos com shows carnavalescos e se, no dia a dia, não zelou pela qualidade do gasto na saúde pública?
Traduzindo: a saúde pública é vítima da corrupção de prioridades. Esse sistema perverso penaliza o cidadão menos favorecido. Os recursos públicos são insuficientes. O pouco dinheiro existente é mal gasto ou investido em outras "prioridades". Mas, nesse contexto, nós, cidadãos, não estamos isentos de culpa. Contribuímos com esse quadro quando fechamos os olhos para as causas do problema. É como quebrar o termômetro para dizer que o bebê não está com febre. E, para piorar, elegemos e mantemos no poder os verdadeiros algozes da saúde pública, os corruptores de prioridades.