Alexandre Campos de Souza *
Após a traumática demolição da Estação da Mogiana e a retirada de seus trilhos, no final da década de 1970, que apagou uma parte importante da história de Araguari e do Estado de Minas Gerais, lideranças intelectuais de nossa cidade engendraram ações que garantiram a preservação dos remanescentes da Estrada de Ferro Goiás. Vários inventários, tombamentos e obras de restauração se destacaram no cenário regional e até nacional, como exemplos de valorização deste legado ferroviário.
Década após décadas, gestores municipais, instituições e a comunidade deram pequenos passos rumo à preservação deste rico acervo cultural disperso pela paisagem urbana, refletindo diretamente na identidade cultural do araguarino, projetando a cidade entre aquelas que lutam pela memória ferroviária.
Dentre as principais ações, ao longo do tempo, podemos pontuar os trabalhos da década de 1980, que culminaram no tombamento do Conjunto da Estrada de Ferro, cuja Estação é o principal ícone,em 1989, estimulado pelo Programa de Preservação do Patrimônio Histórico do Ministério dos Transportes – PRESERVE. Após este processo, várias tentativas de comprar o conjunto ferroviário foram realizadas, até que em 1999, a lei municipal 3359, autorizou a compra de uma parcela da área, tendo a Estação e o Armazém de cargas como principais prédios.
No mesmo ano foi realizada a restauração do telhado do prédio, garantindo sua preservação parcial, até que novas ações fossem realizadas. Em 2001 o processo de restauração da Estação continuou, com o Mutirão PróRestauração, que envolveu a comunidade local no importante passo que viria pela frente.
O prédio da Estação tornou-se o centro das ações culturais, chamando a atenção da população para a riqueza histórica da ferrovia. Desfiles, shows, palestras e feiras gastronômicas foram realizados diante do prédio ainda degradado, enquanto os projetos da restauração eram elaborados.
Diante do valor cultural da Estrada de Ferro Goiás para Araguari, para o Triângulo Mineiro e estados de Minas Gerais e Goiás, o patrimônio de bens imóveis foi tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural de Minas Gerais-IEPHA MG. A cidade passou a fazer parte dos locais oficiais que ajudavam a contar a história de Minas Gerais.
Junto das ações públicas, a comunidade trabalhou, participando e apoiando todas as etapas. Em 2004, quando a RFFSA tentou desviar um dos vagões tombados no conjunto de bens móveis, a comunidade ferroviária se mostrou atuante, impedindo a saída da carreta, deitando-se no chão. A prefeitura prontamente atuou junto aos meios legais, impedindo a retirada do bem.
Em 2005 a Restauração da Estação da Goiás foi entregue à população, juntamente com o Museu dos Ferroviários de Araguari. Os esforços dos mais de 30, diversas gestões, e ações populares foram coroados com este elemento que virou um ponto de encontro para a cidade. Em homenagem aos trabalhadores que construíram este patrimônio, a Câmara Municipal batizou o prédio com o nome de “Palácio dos Ferroviários”. Araguari virou notícia em todo o país, fortalecendo o orgulho de sua população.
Continuando o processo de revitalização do conjunto ferroviário, em 2007 iniciou-se o projeto de restauração do Armazém de Cargas, que agora, em 2011, se apresenta a todo vapor, para instalação da secretaria municipal de Educação. O projeto, devidamente autorizado, seguindo as normas de preservação, se abre como um rico processo educação patrimonial, diante das parcerias entre diversos órgãos públicos e Conselho do Patrimônio Cultural.
Cada ação em favor da valorização ferroviária araguarina efetiva nossa cidade como exemplo de cidades evoluídas culturalmente, tornando-se referência para tantas outras, deixando na história o nome de seus idealizadores.
* Bacharel e Licenciando em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e, infelizmente, mais uma vítima fatal de acidente ocorrido no dia 6 de dezembro, na BR-050.
Publicado originariamente no Jornal Gazeta do Triângulo, de 08/12, em homenagem póstuma ao jovem Alexandre Campos de Souza.
Pitaco do blog
Bela homenagem do Gazeta ao Alexandre.
Aos poucos, vou conhecendo as belas histórias de vida daqueles que se preocupam com a preservação da história de Araguari. É um trabalho muito bonito, feito, via de regra, por jovens idealistas, apaixonados pela cidade.
A minha esperança sincera é de que, na esteira do Alexandre Campos, sigam outros jovens, igualmente interessados na preservação do rico legado ferroviário. E que eles consigam, cada vez, mais se fazer ouvir pelo poder público. Afinal, se quisermos alcançar a evolução cultural referida no artigo, devemos atribuir à preservação da história do município o status de agenda permanente de todos os governos.
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