Legado da Sobremesa
Uma tentativa de análise da atual estrutura político-econômica de Araguari remete-nos aos tempos gloriosos do auge da lavoura de café em nosso município. Lembro-me que até meados da década de 80, podíamos notar um intenso movimento humano, gerado principalmente pela cultura dessa sobremesa. Levas de homens e mulheres podiam ser vistas de madrugadinha, embarcando em caminhões que os conduziriam ao trabalho no campo.
Lembro-me que aos sábados, à tarde, a Avenida Senador Melo Viana, ficava abarrotada desses trabalhadores que acabavam de chegar do trabalho na roça. Nos antigos armazéns, as chamadas “vendas”, os donos se desdobravam para atender à demanda, vendendo ou recebendo as antigas “cadernetas”. Nos bares ao redor, amontoados de homens ainda sujos da labuta, refrescavam em seus copos de cerveja, atenuando a semana dura e calejada do ganha-pão. “Havia àqueles “que preferiam “matar o bicho” e mandavam uma” Jamel” goela abaixo, mordendo rapidamente um espetinho passado na farinha sem o vendedor preocupar-se, como hoje, com o tal do SIM. Havia movimento, corria dinheiro, e mesmo ainda sendo criança, percebia que aquele movimento era devido ao trabalho nas lavouras de café.
Com um contingente tão grande de trabalhadores nas mãos, era possível aos fazendeiros de café ter seu poder político ressaltado frente a outras categorias. Tinham seu povo e dinheiro para manter o poder. Durante a época de ouro dessa cultura em nossa Araguari, a política sempre foi direcionada aos donos dessa lavoura e seus interesses, que esbarravam inclusive na vinda de novos empreendimentos para cá. Enquanto nossas vizinhas como Uberlândia e Uberaba, preparavam o terreno propiciando condições de desenvolvimento, Araguari cerrou-se no provincianismo de interesses e preferiu manter uma estrutura que por fim culminaria em prejuízo à cidade.
A partir do fim da década de 80, percebemos que a lavoura cafeeira passa pela mecanização, excluindo uma massa enorme de trabalhadores sem qualificação. As grandes colheitadeiras passam a fazer o trabalho de milhares de homens e mulheres - lembro-me que á época até crianças “iam pro café”- surgindo um grande número de desocupados em Araguari. Dessa forma, apesar de estar aumentando seus ganhos com a mecanização agrícola o cafeicultor perde uma enorme quantidade de eleitores, que sem o trabalho, perdem o vínculo e não se sentem mais em obrigações com o patrão. Assim o café começa a perder espaço na política.
Some-se a esses fatores, uma brusca mudança na fronteira agrícola, onde o centro-oeste, a partir da década de 1990, passou a atrair interesses e capitais para as mais variadas lavouras, inclusive o café. Dessa forma, fomos perdendo a hegemonia sobre o produto. E em termos de economia globalizada, atualmente em termos de volume de produção o Brasil já foi ultrapassado pela Colômbia na produção de café.
Graças à dependência exclusiva de um único produto, nossa cidade ficou marginalizada pelo desenvolvimento. Graças aos interesses de apenas uma classe, não conseguimos criar condições e infraestrutura para o desenvolvimento. Devido a isso, já fomos ultrapassados até por Catalão, onde se criaram condições para aportar grandes indústrias, o que, a meu ver, é fator peremptório para o desenvolvimento de qualquer localidade. Ontem, a pedido de uma amigo, fui a uma reunião onde estava presente o vice-governador (confesso que é um ambiente onde não me sinto à vontade). Conversando com o Odon De Queiroz Naves, ele expôs seu ponto de vista sobre desenvolver Araguari. Concordo que temos de manter e apoiar as estruturas que já temos aqui. Apoiar o comércio e as pequenas indústrias já existentes. Entretanto, dependermos exclusivamente do comércio da Rui Barbosa é direcionar Araguari ao limbo do desenvolvimento.
O comércio depende muito da Prefeitura e do Estado, que são os maiores empregadores do município, porém, os trabalhadores têm o salário cada vez mais achatado, devido a fatores como perdas salariais, endividamento com empréstimos, etc. Tem-se de pensar Araguari dentro de uma concepção onde a concorrência não seja vista como algo prejudicial, mas sim motivadora do desenvolvimento industrial e comercial, afinal, isso é próprio do capitalismo. E fechar Araguari aos investimentos por simples caprichos de comerciantes ou outra classe é um atraso colossal que está nos deixando ilhados aqui no Triângulo Mineiro. Necessárias análises mais técnicas para o desenvolvimento, deixando de lado suposições e “achismos” que nada beneficiam ou impulsionam o desenvolvimento. Nunca vi falar que Araguari faz, por exemplo, pesquisa de mercado.
O Odon me disse ontem que a crítica pela crítica é inválida. Concordo. Aqui está minha sugestão: não deixar Araguari depender de uma única classe como no passado. Mudar a mentalidade e pensar numa cidade para todos, não só para o cafeicultor, o médico, o dentista ou o servidor público. O caminho é valorizar o que já possuímos incrementar e atrair novos investimentos. Mas para isso precisaríamos de pessoas de ampla visão e conhecimentos multidisciplinares. E nesse último ponto já esbarraremos em vaidades.
* Wellington Colenghi é funcionário público municipal.
Lembro-me que aos sábados, à tarde, a Avenida Senador Melo Viana, ficava abarrotada desses trabalhadores que acabavam de chegar do trabalho na roça. Nos antigos armazéns, as chamadas “vendas”, os donos se desdobravam para atender à demanda, vendendo ou recebendo as antigas “cadernetas”. Nos bares ao redor, amontoados de homens ainda sujos da labuta, refrescavam em seus copos de cerveja, atenuando a semana dura e calejada do ganha-pão. “Havia àqueles “que preferiam “matar o bicho” e mandavam uma” Jamel” goela abaixo, mordendo rapidamente um espetinho passado na farinha sem o vendedor preocupar-se, como hoje, com o tal do SIM. Havia movimento, corria dinheiro, e mesmo ainda sendo criança, percebia que aquele movimento era devido ao trabalho nas lavouras de café.
Com um contingente tão grande de trabalhadores nas mãos, era possível aos fazendeiros de café ter seu poder político ressaltado frente a outras categorias. Tinham seu povo e dinheiro para manter o poder. Durante a época de ouro dessa cultura em nossa Araguari, a política sempre foi direcionada aos donos dessa lavoura e seus interesses, que esbarravam inclusive na vinda de novos empreendimentos para cá. Enquanto nossas vizinhas como Uberlândia e Uberaba, preparavam o terreno propiciando condições de desenvolvimento, Araguari cerrou-se no provincianismo de interesses e preferiu manter uma estrutura que por fim culminaria em prejuízo à cidade.
A partir do fim da década de 80, percebemos que a lavoura cafeeira passa pela mecanização, excluindo uma massa enorme de trabalhadores sem qualificação. As grandes colheitadeiras passam a fazer o trabalho de milhares de homens e mulheres - lembro-me que á época até crianças “iam pro café”- surgindo um grande número de desocupados em Araguari. Dessa forma, apesar de estar aumentando seus ganhos com a mecanização agrícola o cafeicultor perde uma enorme quantidade de eleitores, que sem o trabalho, perdem o vínculo e não se sentem mais em obrigações com o patrão. Assim o café começa a perder espaço na política.
Some-se a esses fatores, uma brusca mudança na fronteira agrícola, onde o centro-oeste, a partir da década de 1990, passou a atrair interesses e capitais para as mais variadas lavouras, inclusive o café. Dessa forma, fomos perdendo a hegemonia sobre o produto. E em termos de economia globalizada, atualmente em termos de volume de produção o Brasil já foi ultrapassado pela Colômbia na produção de café.
Graças à dependência exclusiva de um único produto, nossa cidade ficou marginalizada pelo desenvolvimento. Graças aos interesses de apenas uma classe, não conseguimos criar condições e infraestrutura para o desenvolvimento. Devido a isso, já fomos ultrapassados até por Catalão, onde se criaram condições para aportar grandes indústrias, o que, a meu ver, é fator peremptório para o desenvolvimento de qualquer localidade. Ontem, a pedido de uma amigo, fui a uma reunião onde estava presente o vice-governador (confesso que é um ambiente onde não me sinto à vontade). Conversando com o Odon De Queiroz Naves, ele expôs seu ponto de vista sobre desenvolver Araguari. Concordo que temos de manter e apoiar as estruturas que já temos aqui. Apoiar o comércio e as pequenas indústrias já existentes. Entretanto, dependermos exclusivamente do comércio da Rui Barbosa é direcionar Araguari ao limbo do desenvolvimento.
O comércio depende muito da Prefeitura e do Estado, que são os maiores empregadores do município, porém, os trabalhadores têm o salário cada vez mais achatado, devido a fatores como perdas salariais, endividamento com empréstimos, etc. Tem-se de pensar Araguari dentro de uma concepção onde a concorrência não seja vista como algo prejudicial, mas sim motivadora do desenvolvimento industrial e comercial, afinal, isso é próprio do capitalismo. E fechar Araguari aos investimentos por simples caprichos de comerciantes ou outra classe é um atraso colossal que está nos deixando ilhados aqui no Triângulo Mineiro. Necessárias análises mais técnicas para o desenvolvimento, deixando de lado suposições e “achismos” que nada beneficiam ou impulsionam o desenvolvimento. Nunca vi falar que Araguari faz, por exemplo, pesquisa de mercado.
O Odon me disse ontem que a crítica pela crítica é inválida. Concordo. Aqui está minha sugestão: não deixar Araguari depender de uma única classe como no passado. Mudar a mentalidade e pensar numa cidade para todos, não só para o cafeicultor, o médico, o dentista ou o servidor público. O caminho é valorizar o que já possuímos incrementar e atrair novos investimentos. Mas para isso precisaríamos de pessoas de ampla visão e conhecimentos multidisciplinares. E nesse último ponto já esbarraremos em vaidades.
* Wellington Colenghi é funcionário público municipal.
17 comentários:
A solução mais rápida é emendar com Uberlândia.
Bom saber que qualquer grande empreendimento exige contrapartidas financeiras ou em obras da prefeitura. Não tem orçamento, nem se comprometem a fazer previsão para o próximo ano. Quanto a fazer projetos, que dependem de pesquisa de mercado, isso tem um preço. E não tem dinheiro para pagar contratação de projetistas, que depende de licitação, que depende de orçamento, que depende do secretário, que depende do prefeito, que....
Anônimo, completando seu raciocínio: Qude dependem de nosso voto, afinal somos nós que colocamos a corja lá.
Não se iluda com troca de pessoas, isso é um problema técnico, além de estar vinculado à lei de responsabilidade fiscal. Mas tem solução. Vamos ver se conseguimos colocar gente que se não sabe fazer ao menos deixe alguém que sabe fazer. Grandes empreendimentos são privados e, portanto, é trabalho mais de profissionais liberais do que de políticos.
Não se iluda com troca de pessoas, isso é um problema técnico, além de estar vinculado à lei de responsabilidade fiscal. Mas tem solução. Vamos ver se conseguimos colocar gente que se não sabe fazer ao menos deixe alguém que sabe fazer. Grandes empreendimentos são privados e, portanto, é trabalho mais de profissionais liberais do que de políticos.
não me iludo com troca de pessoas, sejam elas quais forem, não são elas quem decide fazer grandes investimentos ou movimentar a economia da cidade. Bastaria que elas não atrapalhassem e tomassem as medidas burocráticas que lhes competem. Mas orçamento e lei de responsabilidade fiscal são aspectos importantes mas que se resolvem com os empresários na fase da elaboração dos projetos.
não me iludo com troca de pessoas, sejam elas quais forem, não são elas quem decide fazer grandes investimentos ou movimentar a economia da cidade. Bastaria que elas não atrapalhassem e tomassem as medidas burocráticas que lhes competem. Mas orçamento e lei de responsabilidade fiscal são aspectos importantes mas que se resolvem com os empresários na fase da elaboração dos projetos.
O colega Wellington Colenghi, neste texto além de remeter me ao passado, fez- me refletir sobre um tema que é extremamente relevante ... sem entrar em detalhes paro por aqui. Porém, se fizermos uma "ponte ao futuro" bem próximo fará muito bem a nossa cidade. Relembrar o passado, pensar bem no presente e preparar para um futuro melhor, que diga se de passagem esta em nossas mãos, fará toda a diferença! Façamos todos a nossa parte para que a nossa Araguari, entre na era do desenvolvimento rumo ao futuro ...Avante!!
Também não podemos virar cidade do futuro, nem cidadãos do futuro. Afinal quem sabe faz a hora não espera acontecer. Você é prova disso, contribuindo para reduzir a corrupção. Não é tudo. Quero dizer que o desenvolvimento é a soma de atitudes, dos cidadãos, dos gestores públicos e especialmente da vontade empresarial. Do lado da prefeitura, cabe receber e atender bem o visitante que deseja colocar suas economias na cidade. Do lado do cidadão, boas idéias ajudam muito. Você, por exemplo, conhecedora da potencialidade da cidade, se tivesse um milhão no bolso o que você faria? A prefeitura iria lhe impedir de investir? No que ela poderia lhe ajudar? Se você não sabe, continuará com o "Legado da Sobremesa" do Colenghi, ou seja, ficará com o que sobrou da festa de quem pagou para ver.
Anônimo do dia 22 de março de 2012 15:28
"Grandes empreendimentos são privados e, portanto, é trabalho mais de profissionais liberais do que de políticos."
Este nãoseria um discurso parecido com o qual o Novo MOdelo ganhou as eleições?
Ademais, bom seria você notar que o atual governo inflou-se de profissionais liberais, que veem na administração apenas um meio de complementar sua renda. Dentistas, administradores, contadores (Principalmente de histórias), enfermeiros e afins. Portanto não vejo muita utilidade prática nessa teoria, a não ser, claro, que você seja mais um querendo aumentar a renda. Já parou para pensar realmente se eleição muda alguma coisa? Acha que se realmente mudasse os picaretas nos permitiriam votar?
Esse discurso vazio de administrar o público como privado não funciona e poderia lhe listar uma gama de razões do motivo dela não funcionar. No mais é só subjetivismos. resultado sérios, num país que não é sério....parafraseando o capitão Nascimento ..."Nunca será".
ser anônimo tem suas vantagens, você que se mostra fica mais à vontade para ser franco comigo. Assim é melhor. Acho que nem sempre a generalização é justa. Os profissionais aos quais você se referiu nada contribuem para a elaboração dos grandes projetos. São necessários ao cumprimendo dos objetivos da prefeitura. O nível de especialização exigido para os grandes empreendimentos não encontra lugar em nenhuma prefeitura. Essas profissionais militam no diminamismo do mercado de capitais (não me refiro ao mercado financeiro). Portanto, também você não o conhece a deduzir por suas palavras. Se houvesse alguma chance para eu aumentar minha renda, como você sugeriu, não pense que eu seria o único beneficiado. Os grandes empreendimentos contribuem para o aumento de renda de muita gente, de toda a população. Talvez daí seja possível surgir maior arrecadação capaz de melhorar nosso salário. Comecei a entender o Odon sobre fazer crítica pela crítica e que isso é inválido. O certo seria dizer que a crítica pela crítica desgasta e cança os que tem o dever de fazer inclusive os grandes empresários e a crítica genérica desmoraliza indistintamente a todos. São assuntos muito técnicos, sobre grandes projetos, dos quais a maioria dos nossos companheiros da cidade sabe do que se tratam mas não conhecem o funcionamento, inclusive fontes, mas desejam desesperadamente um hotel melhor, um shopping e outros grandes empreendimentos. Nesse caso, ao contrário de criticar, seria melhor se juntar a quem está desesperamente buscando investidores que para investir precisam de mais informações sobre a cidade e nisso você pode ser um potencial colaborador.
Anônimo 26 de março de 2012 12:26
São assuntos muito técnicos ou muito vazios na verdade. Parece que você sugere negociar a prefeitura num pregão como na bolsa de valores.
E como já disse em outras oportunidades, eu não estou criticando, apenas analisando. Mas infelizmente os turrões que andam de Pick-up e veem apenas o agronegócio como fonte de renda não sabem fazer análises...paciência.Aliás, reformulando, não querem que a política mude os rumos, pois isso deixaria de atender suas necessidades. Afinal, o capitalismo tem suas prioridades e por mais que Araguari rsista, graças as mentalidades arcaicas daqui, uma hora ou outra, a cidade terá que emparelhar-se com o s interesses do capital.
Ah 26 de março de 2012 12:26
Se candidatar-se a verador de novo, é ruim de vc ganhar hein? Já perdeu meu voto.
Equivocos generalizados. Como "negociar a prefeitura num pregão"? Estávamos falando de empreendimentos privados... Tudo que você falou é um atestado contra você mesmo, provando a sua distância do assunto. Mas compreendo já que é assunto do domínio de pouquíssimos. Os projetos são técnicos e vazios por serem idéias organizadas, mas sem eles não tem grandes empreendimentos. Afinal planejamento é tudo o que se cobra da administração. Quanto à minha candidatura foi outro equívoco. Buscar coisas pessoais para atacar idéias é uma perda de tempo quando os argumentos acabam.
Prezado Anônimo a única coisa que você mostrou em seus posts foi arrogancia. No mais, falar o que de quem diz-se técnico e defende monocultura....
pocha eu estava gostando do papo dosseis, mas Celengui a sua central de controle entrou em curto circuito, parece que todo mundo na cidade não sabe conversar e ainda na presunção de ser inteligente age com ignorancia e prepotência chamando os estranhos de arrogantes.... afinal quem sabe mais é arrogante ou é falta de humildade sua?
Não me falta humildade meu caro, apenas não tolero discursos misticos, messiâncos e como no seu caso, você propositalmente esconde explicações,ou não sabe dá-las alegando que a maioria não conhece o assunto que está falando. È muito dificil eu ter um curto na cachola.
È só explicar que todo mundo entende e você não irrita ninguém. Agora se não quiser explicar do que se trata esses investimentos, melhor parar por aqui. Obscuridão assim só com os Illuminati.
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