Na década de 1980, quando vivia em Goiás e queria me manter informado sobre Araguari, tornei-me assinante de dois jornais locais: a Gazeta do Triângulo e o Jornal de Araguari. Ao folhear essas páginas, era como se entrasse em um mundo encantado, onde apenas notícias positivas e promessas de desenvolvimento brilhavam. Entretanto, quando retornava à cidade, a realidade era bem diferente do que os jornais haviam pintado. Poucas das grandes conquistas alardeadas nas manchetes haviam sido concretizadas.
Lembro-me da empolgante divulgação de uma maquete de um majestoso edifício de 12 andares da MinasCaixa, que seria o maior da cidade na época. No entanto, na prática, apenas um modesto prédio de dois andares na rua Tiradentes havia sido erguido. Essa discrepância entre a promessa e a realidade também se aplicava a obras públicas como a canalização do córrego Brejo Alegre e o asfaltamento das rodovias para Caldas e Anhanguera, que levaram décadas para sair do papel.
Hoje, inevitavelmente, faço um paralelo com a situação atual. Temos um prefeito que se destaca pela sua presença midiática, frequentemente realizando transmissões ao vivo para anunciar "grandes obras" (sendo que o termo "grandes" talvez se refira apenas ao custo dessas empreitadas). O Major e um exército de influenciadores digitais se empenham em divulgar apenas os aspectos positivos da gestão municipal. A questão da remuneração desses soldados propagadores de boas notícias permanece envolta em mistério. Alguns deles ocupam cargos comissionados ou têm parentes em posições semelhantes.
No entanto, hoje a realidade contrasta fortemente com a propaganda. Vemos inúmeras obras paralisadas ou atrasadas em Araguari, frequentemente reduzidas a meras reformas de praças com custos exorbitantes. No campo da saúde pública, as denúncias são numerosas: falta de médicos, problemas com o ar condicionado na UPA e a ausência de telefones nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), entre outras questões. Além disso, há um campo da legalidade e da ética onde as preocupações se multiplicam. Denúncias de irregularidades na gestão pública pululam, mas, por ora, não estão sendo devidamente investigadas pelos órgãos de controle que parecem atuar de forma indolente e parcial.
Em um mundo onde a realidade se distancia cada vez mais das promessas, é como se tivéssemos caído em um buraco de coelho, entrando no "País das Maravilhas" da política, onde as aparências podem ser enganosas. Nessa jornada, é importante que os cidadãos não se tornem meros espectadores passivos, mas sim questionadores ativos, capazes de exigir transparência, responsabilidade e ação efetiva por parte de seus governantes. O otimismo de Pollyanna é valioso, mas somente quando aliado à vigilância e à participação cidadã poderá nos ajudar a construir um futuro verdadeiramente melhor para nossa comunidade.
Um comentário:
A melhor saída é jogar a toalha e cuidar da própria vida. Ajudar quem pede.
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