O mercado financeiro, representado por grandes investidores e banqueiros, pressiona o governo Lula a realizar reformas que podem comprometer direitos sociais garantidos pela Constituição, como a retirada da vinculação da aposentadoria e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ao salário-mínimo. Essa proposta, sem dúvida, beneficiaria os interesses do "deus mercado" em detrimento das camadas mais vulneráveis da sociedade, alimentando um capitalismo extrativista que parece não se cansar de explorar aqueles que já têm pouco. Como alerta o economista francês Thomas Piketty, "a desigualdade não é acidental nem inevitável; ela é o resultado de políticas e escolhas". No contexto brasileiro, o desmonte dessas proteções sociais é mais uma dessas escolhas, impulsionada por interesses que colocam o lucro acima do bem-estar.
O governo, por sua vez, parece incapaz de tomar medidas efetivas para equilibrar o jogo. A realização de auditorias em benefícios da seguridade social, muitas vezes apresentada como medida de ajuste fiscal, deveria ser uma prática constante e regular em qualquer administração pública. A perda de bilhões em fraudes de benefícios é um problema que transcende a lógica de cortes imediatos e seria uma ação de governança pública básica. No entanto, isoladamente, esse tipo de medida é insuficiente para atender aos anseios do mercado, que busca uma redução estrutural e permanente nas garantias sociais.
Medidas realmente necessárias para um equilíbrio fiscal e social continuam negligenciadas. A "farra das emendas parlamentares", que são destinadas sem a devida transparência e controle, é apenas um exemplo da falta de fiscalização e controle nos gastos públicos. Outros privilégios que o governo não enfrenta incluem os salários exorbitantes pagos à elite do funcionalismo público, especialmente entre magistrados, membros do Ministério Público e Tribunais de Contas, além de benefícios desproporcionais destinados aos militares. Como já alertou o economista Joseph Stiglitz, "a desigualdade é uma escolha política". No Brasil, essa opção se manifesta na persistência de privilégios a certas classes em detrimento das demais.
Diante do impasse entre ceder aos interesses do mercado e proteger os direitos sociais, mesmo sem efetivar as tais reformas estruturais, o governo poderá ser obrigado a cortar recursos em áreas essenciais, como saúde e educação, para apaziguar o setor financeiro. Como observa o economista Eduardo Moreira, "o capitalismo brasileiro está mais interessado em extrair do que em construir". Trata-se de um modelo que, depois de explorar o máximo possível de uma área, como a seguridade social, partirá para novas incursões sobre os direitos básicos da população menos favorecida. Assim, a exploração continua, e o mais fraco permanecerá, como dizem os economistas, "coeteris paribus" — inalterado e deixado para trás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário