sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Morte de criança em Araguari será investigada

Menina de três anos morreu após receber injeção na Santa Casa

A polícia em Araguari vai investigar a morte de uma menina de três anos. Segundo a família, a menina estava internada na Santa Casa e morreu depois de receber uma injeção.
Difícil segurar o choro numa hora como esta. A netinha de Lázaro Honório dos Santos, Julia Santos de Oliveira, de três anos, morreu enquanto era atendida na Santa Casa de Araguari. A família suspeita de erro na aplicação de um medicamento.
A tia da criança, Maria Lucia de Oliveira, diz que na sexta-feira (17) passada ela começou a ter febre, foi ao pronto socorro e depois à Santa Casa e quando parecia que estava melhor, veio o desespero. “Eles mataram a menina. Enquanto a enfermeira aplicava a injeção ela foi virando o olho e morreu”, desabafa a tia.
Segundo a família, a menina permaneceu internada na Santa Casa de Araguari durante três dias. A direção do hospital não permitiu que a reportagem tivesse acesso às informações do prontuário médico, alegando ser sigiloso. No documento consta o motivo da internação, os medicamentos aplicados, a possível causa da morte. Uma sindicância foi instaurada para apurar o fato. “É cedo para afirmar qualquer erro”, pondera o advogado da Santa Casa, Daltro Umberto Rodrigues.
Foi registrado um boletim de ocorrência. A polícia realizou um exame de necropsia e o resultado deve sair em até 30 dias. “Os culpados irão pagar”, conclui o delegado Rodrigo Luis Faria
Fonte: Megaminas

Pitacos do Blog
Havia prometido a mim mesmo não trazer notícias ruins neste período natalino. Contudo, há assuntos que, por mais dolorosos que sejam, merecem registro. Este é o caso.
A atividade médica, como toda atividade humana, oferece riscos. Assim, os profissionais de saúde também são passíveis de causar dano aos pacientes. Cabe-nos, no caso, não fazer pré-julgamentos até porque não temos maiores informações sobre o que efetivamente ocasionou a morte prematura dessa criança.
De qualquer forma, cabe aqui entrar na questão da saúde pública.
Os serviços de saúde devem atuar de forma a diminuir riscos e propiciar o tratamento mais digno aos pacientes. Não é isso o que ocorre em Araguari. Diversas reclamações são feitas diariamente a respeito da qualidade do atendimento prestado no Pronto Socorro e na Santa Casa.
O que se observa é que, infelizmente, o município de Araguari, contrariando a Constituição Federal e as normas do Sistema Único de Saúde, abdicou de prestar diretamente o serviço de saúde. Hoje, o município e os seus cidadãos são reféns da Santa Casa de Misericórdia. Se, por algum motivo, o hospital parar (greve, atraso de pagamentos, etc.), a saúde pública entrará em colapso.
Pois bem. Falando de Santa Casa, o que se constata é que, naquele hospital, os médicos representam a santíssima trindade do descaso com a saúde e o dinheiro públicos. Ali, conforme a conveniência e a disponibilidade do cliente, o médico encarnará uma de três pessoas: médico do SUS, do plano de saúde ou particular. É uma mistura perigosa gerada pela falta de fiscalização e pelo descaso dos nossos gestores públicos.
Também na Santa Casa temos a demonstração de que, ao contrário do que imaginamos, o céu e o inferno podem estar muito próximos. Ali, quem tem dinheiro experimenta o céu. Atendimento de primeira. Profissionais atenciosos. Até complexas cirurgias cardíacas são feitas. Bem próximo do paraíso, na outra ala, pacientes agonizam em enfermarias do SUS. Raros médicos passam pelas enfermarias lotadas. Exames e procedimentos essenciais deixam de ser realizados. Pacientes e familiares sequer são informados dos seus direitos e das possibilidades de tratamento disponíveis em outros centros. Desrespeito pela vida humana, enfim. É o inferno.
Assim, embora não se possa condenar ninguém prematuramente, é possível afirmar que as más condições da saúde pública em Araguari aumentam a possibilidade de falhas na prestação de um serviço essencial. Já está mais do que na hora de acabarmos com a tese de que a terra encobre os erros médicos. Já que não será possível trazer de volta a pequena Júlia, queremos apuração séria e rigorosa dos fatos e punição de eventuais responsáveis.

23 comentários:

Aristeu disse...

Noutros tempos havia uma Justiça denominada como Leis de Talião irmanada com o tal de Código de Hamurabi em que era a mesma feita na base do olho por olho e dente por dente, vida por vida!

Anônimo disse...

Já fui funcionário da Santa Casa, e já presenciei fatos como este de perto. Me perdoem não lembrar exatamente os detalhes, mas houve uma vez em que uma enfermeira estagiária (aluna do curso de enfermagem da Unipac), juntamente com funcionário da Santa Casa que cometeram o mesmo erro, sorte não ter sido fatal e aparentemente não ter causado nenhum dano à saúde da paciente. Me lembro que era uma senhora, e o erro partiu da farmácia. O médico prescreveu determinada medicação e enviaram outra, acho que os frascos eram parecidos e foram confundidos. Sei que injeção foi aplicada, e tomamos conhecimento, após um funcionário da farmácia revisar a prescrição e informar que teria enviado o medicamento errado. Meus pitacos são que, se a enfermeira que fez a medicação fosse funcionária do hospital, saberia que a paciente não poderia tomar tal medicamento, pois os funcionários além de ter sempre o acesso ao prontuário e ter maior conhecimento do quadro clínico dos pacientes, contam com maior experiência. Já os estagiários, não que sejam incompetentes, mas obedecem ordens. É aí que mora o perigo, se um enfermeiro (funcionário) entrega uma medicação na mão do estagiário e fala, vai lá e faz essa medicação em tal paciente, ele vai lá e aplica sem saber do que se trata. Por outro lado, temos a farmácia também. Vira e meche, tão trocando os funcionários, no meu ponto de vista, é um dos setores mais problemáticos e desorganizado da Santa Casa. Nesse caso por exemplo, foram 2 os erros: A medicação foi mandada errada pela farmácia e feita por um estagiário que apenas tinha a função de pegar a medicação enviada e administrar. Esta é apenas uma das diversas irregularidades que não são fiscalizadas dentro daquela Santa Casa, que de SANTO só tem o nome. Enquanto isso na sala de justiça, a instituição "filantrópica" vai ficando com os bolsos amarrotados de dinheiro e pacientes morrendo por falta do comprometimento político com a vida dos cidadãos.

Aristeu disse...

Errar é humano, mas se for erro médico é imperdoável!

Unknown disse...

Desta tragédia, resta a dor da família.

Paradoxalmente, na campanha eleitoral de 2008, o provedor da santa casa liderou um movimento de pressão sobre todos os candidatos a prefeito, pregando necessidade de "mudanças" na saúde do município.

E mais, barganhando apoio político em troca da indicação do(a) secretário(a) de saúde.

Finda a eleição, hora da cobrança, inclusive com publicação de cartas na imprensa, exigindo o cumprimento do pacto. E mais pressão por verbas.

Dois anos de trapalhadas, equívocos, omissões e excessos revelam o total descompromisso com o Sistema Único de Saúde e seus usuários.

Talvez um pouco menos de politicagem e um pouquinho mais de atenção com a rotina administrativa pudessem evitar esse tipo de desastre.

Anônimo disse...

vivi muita dor na santa casa minha filha era cardiopata e na santa casa nao tem suporte suficiente pra essas crianças as enfermeiras sao muito incompetentes nessa area nao me resta duvida de que foi erro tanto do medico quanto das enfermeiras e estagiarios.

Unknown disse...

Apesar da dor das famílias e do relato contundente de um ex-funcionário (anônimo por razões óbvias) é preciso sempre cautela para não prejulgar.

Porém, nos idos de 2006, uma audiência promovida pela Promotoria de Justiça reuniu a promotora curadora da saúde, os secretários municipais de saúde e fazenda, o procurador geral do município e os diretores dos hospitais credenciados ao SUS. A pauta: atraso nos pagamentos aos hospitais e cobrança por aumento nas suplementações de tabela.

Ao fazer um relato aos presentes, das dificuldades pontuais para encaminharmos pacientes do Pronto Socorro para internação, por dificuldades criadas pelos próprios hospitais, ouvi do provedor da Santa Casa a seguinte frase:

"SECRETÁRIO, PACIENTE DO SUS É PROBLEMA SEU!!"

Passei-lhe a devida descompostura, lembrando das responsabilidades dos serviços credenciados, à luz da Lei Orgânica da Saúde e da Norma Operacional de Assistência à Saúde. No mais, silêncio absoluto.

Porém, os inúmeros fatos relatados nos últimos anos dão bem a dimensão do quanto aquele pensamento é levado ao pé da letra.

Apesar de se tratar de seres humanos e, acima de tudo, de cidadãos brasileiros amparados pela lei que lhes garantem assistência UNIVERSAL, INTEGRAL e EQUÂNIME à saúde.

E o silêncio continua...

Anônimo disse...

Certa vez, assim que assumiu a frente da secretaria de saúde, a gestora do SUS do nosso municipio disse essas sabias palavras:"por que a imprensa não divulga a quantidade de vidas que nós salvamos". Essa sua fala era uma resposta se não me engano, a morte de um homem na porta do pronto-socorro no meio do ano.

Anônimo disse...

Aristeu, ficou parecendo que se fosse tua filha no lugar dessa crianca, voce ficaria conformado. Quando se trata de cuidar da vida, apesar de estarmos sujeitos a erros o cuidado tem que ser redobrado, ainda mais esse tipo de erro, que pode ser evitado de diversas formas. Creio eu que se fosse tua filha, voce iria ficar bastante revoltado, nada de "errar e humano"!

Anônimo disse...

$OMENTE O$ RICO$ $AO MELHOR TRATADO$ NA $ANTA CA$A DE MI$ERICORDIA!

Anônimo disse...

Não sei se esse fato lastimável, triste e desumano respinga no mal gerenciamento da Secretaria de Saúde. Mas se respinga, que a secretária mande rezar uma missa, que foi a única coisa que vi ela mandar fazer na sua gestão.

Anônimo disse...

Creio que qualquer jugamento pode ser precipitado. Antes de qualquer coisa deveria ser filtrado estas informaçoes para nao ser jugado as pessoas erradas. Esta instituiçao pode como todas outras ter funcionarios despreparados, pois devido aos salarios defazado desta classe trabalhadora que nao tem um sindicato para lutar por um teto salarial e ate mesmo para defender estes funcionarios que estao sendo citado. Se estivesse um salario melhor se o funcionario fosse mais valorizado nao existeria este rodizio de funcionarios, pois os trabalha e que tem uma oportunida melhor nao vai quer continuar so por amor a empresa, as pessoas trabalha em troca de algo nao importa sua profissao.
Sei que a dor da familia e grande e tem um culpado, o que resta saber e se este julgamento vai ser feito com sabedoria.

Unknown disse...

Perfeito.

Humanização e respeito na relação com funcionários é o primeiro passo para uma empresa preservar equipe e manter alto padrão de serviços.

Anônimo disse...

A questão em si ainda não está sendo prejulgada, pelo menos por mim que expus um fato semelhante ao da criança ocorrido enquanto eu ainda trabalhava lá. Eu não disse em momento algum que tenha acontecido a mesma coisa, apenas comentei para que vocês tivessem o conhecimento, e que pode ser uma hipótese, justificando a própria matéria publicada que aponta um possível erro como causa da morte da menina. E quanto à Humanização nas relações entre funcionários e a instituição, é um dos requisitos para adquirir o selo de qualidade ISO 9001 que o hospital obteve recentemente. Considero de extrema importância em qualquer empresa, porém lá, apenas maquiaram. Apontaram a diretora administrativa da época como responsável pelo setor, e quando em auditoria externa em busca certificação foi apresentado os documentos exigidos, porém o setor não existe.

Anônimo disse...

Edilvo;
Gostaria do seu comentário a respeito da caligrafia ilegível da maioria dos médicos e de uma lei que exigi a utilização de transcrições à máquina. Existe ou não esta lei?

Unknown disse...

CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

PREÂMBULO
I – O presente Código de Ética Médica contém as normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua profissão...
...
V - A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste Código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das comissões de ética e dos médicos em geral.

Capítulo III - RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL
É vedado ao médico:
...
Art. 11. Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho Regional de Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos.
...
Art. 87. Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
§ 1º O prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico no Conselho Regional de Medicina.
§ 2º O prontuário estará sob a guarda do médico ou da instituição que assiste o paciente.

Art. 88. Negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros.

Unknown disse...

Desconheço norma que exija a transcrição à máquina. Mas, com o advento do computador pessoal, há anos se recomenda que os médico o façam.

Alguns já agem assim. Outros dão de ombros e continuam prescrevendo garranchos.

Quanto ao prontuário, para adotar a prescrição digital seria necessário apenas dotar os postos de enfermagem de computadores com impressora; o que, convenhamos, custa barato.

Enquanto isso, a ilegibilidade da letra da maioria dos médicos os expõe a risco de ações judiciais na área cível.

ANTONIO MARCOS DE PAULO disse...

De todos os comentários (todos valiosos), é possível extrair algumas conclusões.
Não se pode culpar ninguém antes de serem concluídas as apurações sobre as causas da morte prematura da Júlia.
De qualquer forma, nota-se uma queda na qualidade dos serviços de saúde. Isso pode contribuir para que essa e outras fatalidades semelhantes ocorram.
Definitivamente, não faltam normas para o funcionamento do sistema de saúde pública. Faltam, isto sim, comprometimento e ética por parte de alguns profissionais do setor. Sem a aplicação de punições (já previstas em leis), o ser humano não retomará o caminho correto.
Em suma, está faltando controle. A prefeitura tem que exigir o correto cumprimento dos convênios que faz com hospitais públicos e deve obrigar seus funcionários a trabalhar corretamente, dando-lhes condições (motivação, equipamentos, etc.) para tanto. A Câmara, apesar da descrença do mestre Edilvo (rs), deve intervir nesses casos, indo ao local dos fatos e chamando os agentes públicos para prestar esclarecimentos. O Ministério Público, devido ao excessivo número de reclamações de usuários do SUS, JÁ DEVERIA ter chamado a Prefeitura às falas, adotando as medidas administrativas e judiciais cabíveis para diminuir o problema. Agora, o mais importante: nós, usuários do SUS, devemos exercer nosso papel, criticando e denunciando. Temos os jornais, as rádios, os blogs, os Conselhos profissionais (Medicina e Enfermagem), o Ministério Público, a Polícia, etc. Pode não dar em nada, mas se não tentarmos, jamais saberemos o que irá acontecer.

Wellington disse...

Edilvo:
Qual o papel da Secretaria de Saúde em relação a Santa Casa? A Administração Muncipal tem poder para fiscalizar ou este papel de fiscalizador não cabe ao município?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Colenghi,

em qualquer município do Brasil a secretaria municipal de saúde é, por determinação legal (Lei 8080/90) a gestora do SUS, estando todos os serviços de saúde (inclusive os privados credenciados) subordinados à sua gestão, normatização e fiscalização.

A fiscalização fica comprometida (ou inexiste) quando o gestor (ou gestora) não possui independência e/ou competência para atuar; e quando o cargo existe como domínio exclusivo de agente político, fruto de negociações de campanha.

Unknown disse...

14 de janeiro....

Unknown disse...

15 de janeiro...

Unknown disse...

18 de janeiro...

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