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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
O combate à corrupção requer resiliência
Os grandes avanços iniciais da operação Lava Jato, proporcionados pelas colaborações premiadas, encheram o povo brasileiro de esperança de que uma nova ordem, uma nova sociedade estava nascendo. Havia uma percepção de que finalmente a impunidade cederia lugar ao império da lei, à igualdade perante a lei para ricos e pobres, cidadãos comuns ou políticos poderosos. O poder político e econômico pela primeira vez viu-se submetido a um risco real de prisão e demais consequências de atos de corrupção.
Desde o destroçamento das dez medidas contra a corrupção pelo Câmara dos Deputados em novembro de 2016, há um anticlímax no ar. O recuo do STF no afastamento de Renan Calheiros da Presidência do Senado e o novo recuo no caso do Senador Aécio Neves fez corar de vergonha quem acompanha com atenção os julgamentos do STF. Depois de tanta coragem, firmeza e rigor com o Deputado Eduardo Cunha, então Presidente da Câmara, o STF aceitou que suas decisões cautelares envolvendo parlamentares tivessem de ser referendadas pelas casas legislativas, com efeitos multiplicadores em assembleias legislativas Brasil afora. Além disso, habeas corpus concedidos em escala industrial por alguns ministros do STF, liberando baratas e outras criaturas peçonhentas, dão o tom negativo do momento.
As mudanças de que a sociedade brasileira tanto precisa não serão tão rápidas quanto gostaríamos. Não com esse STF fragmentado, oscilante, com evidentes conflitos internos e estranhos comportamentos externos de alguns de seus membros. Não com esse Congresso Nacional em crise de representação, em que ninguém se sente representado por ninguém. Precisaremos trabalhar mais tempo e com mais afinco, para eliminar essa corrupção sistêmica, infiltrada em todos os poderes, em todos os níveis. É preciso resiliência, perseverança, não desanimar diante das derrotas que virão e continuar construindo as vitórias que também virão.
Enquanto isso, novas gerações estão sendo formadas e nelas reside a chave dessa luta. Precisamos impregnar nas crianças e jovens a cultura anticorrupção, continuar expondo como a corrupção rouba sonhos, futuros e possibilidades, continuar mostrando como outros países se desenvolveram a partir de instituições que não toleram a corrupção porque a própria sociedade não a tolera.
Aos poucos, esses jovens ocuparão seus lugares nas empresas, na administração pública, na política, no judiciário. Os que defendem o atraso hoje assim serão lembrados, como peças arcaicas de um passado que não queria passar, mas que felizmente ficou para a poeira da história. Como escreveram poetas de nossa música popular, o novo sempre vem, vamos lá fazer o que será.
Artigo do Procurador do Ministério Público de Contas da União Júlio Marcelo de Oliveira, publicado originalmente no site do Instituto Não Aceito Corrupção (clique aqui).
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