JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
4 comentários:
Realmente, o povo elegeu aquela que é sua imagem e semelhança. Dilma é a sombra de uma "democracia" sem líderes, sem oposição inteligente, de um partido sem opção, da candidatura de uma caricatura subjulgada por um ditador neoliberal assistencialista.
Isso é o reflexo do povo deste país: dependente de uma "Bolsa Familia" que conspurca a dignidade de uma pai e de uma mãe de familia.
Consolida-se agora a era "Chavista-Lulista" no Brasil, a era do governo dos camaradas.
Parabéns, Lula, você realmente sabe manipular os "humildes e mansos de coração" e impor seus desejos mais nobres: a dependência. Você é uma verdadeira droga-política!
Dia 31/10/10, uma data que ficará marcada. Dia das BRuxas. Eleição da Primeira Presidenta do BRasil.
E agora? Espero que minha votação em Serra encerra. Quantas vezes já votei? Vinte e uma, fora uma que anulei.
Alessandre, não vejo o quadro atual com esses olhos. Dilma deixou de ser a candidata da maioria para se tornar a Presidente de todos nós.
O que isso quer dizer? Significa que é momento de desarmarmos os espíritos e torcer para que ela faça um bom governo. É claro que, como cidadãos, temos a obrigação de exigir dela e todos os agentes públicos a prática da democracia e uma atuação republicana.
Apesar de o final desta eleição se parecer com fim de baile, acredito que há motivos para comemorar. Queiramos ou não, um partido de origem popular, que já elegeu um torneiro mecânico para a Presidência da República, conseguiu conduzir primeira mulher a esse cargo.
O povo é sábio. Precisamos respeitar-lhe a vontade. À oposição cabe, agora, agir com responsabilidade e inteligência. Deixar a arrogância de lado, enxergar os méritos dos vencedores e reconhecer os próprios erros são o primeiro passo.
O país será tanto pior, do ponto de vista da transparência, quanto omissas forem as instituições representativas das diversas camadas sociais.
A tradição pelega do beija-mão, da pajelança conveniente ao rei da hora, apagou na maioria da população o resquício de ousadia necessária.
Salões de cabeleireiro, saunas e mesas de buteco, não deveriam encerrar (e apagar) os sinais de atitude que geralmente provocam.
Seja este ou aquele governo, o que se assiste é uma subserviência covarde que, aos poucos, condena a cidadania ao ostracismo. E relega a indignação a parcas manifestações, cercadas de posts anônimos por todos os lados...
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