Por enquanto, as investigações oficiais não indicam a participação do prefeito, Raul Belém, nos desdobramentos da Operação Tarja Preta em Araguari. Entretanto, alguns fatores sinalizam o contrário: o prefeito teria participado ou, ao menos, teria todas as condições de saber o que estava acontecendo. Lembrando que a omissão também pode ser uma forma de participação (de contribuição para a ocorrência de algum fato). Vejam os motivos que permitem essa interpretação.
1) O empresário Vivaldo Pinheiro Guimarães, ligado à empresa Interlagos, de acordo com as transcrições, manteve inúmeros contatos com o advogado Tomaz Chayb e com outros integrantes da suposta organização criminosa que atuava inicialmente naquele estado ("VIVALDO liga para TOMAZ e marca almoço, às 12h00, com o advogado na churrascaria LANCASTER GRILL, localizada perto do escritório deste último" [pág. 367]; "TOMAZ diz a Vivaldo que está à sua disposição. Combinam de se encontrar no barzinho Carreiro, próximo ao Supermercado União" [pág. 344]);
2) nesses contatos com o advogado, o empresário demonstrou interesse e poder na sua atuação na Prefeitura, por exemplo, ao orientá-lo em como atuar no Departamento de Licitações, perguntando-lhe em quanto tempo conseguirá colocar as coisas "no eixo" e se os funcionários daquele setor "viram quem manda" (pág. 322 das transcrições);
3) ainda conforme as transcrições, reuniões entre o prefeito, o procurador-geral do município e representantes de fornecedores de medicamentos investigados teriam sido realizadas na casa do empresário, ocasião em que agentes políticos do município teriam pedido propina ("ANDRÉ [dono a empresa Stock] lhe contou [a Marcelo Machado Maia, investigado em Goiás] a história todinha de Araguari, que chamaram ele também lá essa semana, que estão pedindo R$ 100.000,00, que quem falou foi o RAUL" (pág. 139);
4) nas escutas telefônicas, o empresário demonstrava ter acesso fácil ao Palácio dos Ferroviários ("VIVALDO [de Araguari] liga para MILTON [já denunciado criminalmente em Goiás] e diz que já falou com o secretário de saúde, porém a lista [de medicamentos] não fica pronta hoje, provavelmente, deve ficar pronta na terça ou quarta-feira com os itens que eles vão precisar. VIVALDO diz que vão fazer o emergencial para fevereiro, março e abril e salienta que o pessoal [da prefeitura ?] está em Belo Horizonte participando de um fórum." - pág. 175);
5) de acordo com informações obtidas pelo blog, o referido empresário teria participado de viagens com o então candidato Raul Belém a Belo Horizonte e a Brasilia durante a campanha eleitoral;
6) conforme o colunista Adriano Souza (Gazeta do Triângulo), logo após as eleições, esse mesmo empresário "teria aceitado na última sexta-feira [30/11] o chamado do prefeito eleito Raul Belém (PP) para assumir a secretaria de Governo." (
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7) de acordo com as escutas telefônicas, o prefeito Raul Belém manteve contatos com o advogado Tomaz Chayb a partir do mês de abril deste ano, antes mesmo de ter sido formalizada a sua contratação (o prefeito tinha a obrigação legal de saber que o advogado prestava serviços ao município de forma irregular);
8) o prefeito Raul Belém sabia ou, pelo menos, deveria saber o que acontecia no Departamento de Licitações e Contratos da Prefeitura. Tanto isso é verdade que o colunista Adriano Souza, um dos mais bem informados da cidade, afirmou que na madrugada do 13 para 14/05 (após a substituição do pregoeiro Neilton [
clique aqui]e três dias antes do adiamento do pregão para compra de medicamentos [
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Observação: este levantamento é bastante resumido. Existem inúmeros outros pontos das transcrições que reforçam os indícios de ligações (conexão) entre o empresário Vivaldo e integrantes do governo e da suposta organização criminosa investigada em Goiás. Da mesma forma, outros trechos reforçam a conclusão de que o prefeito, no mínimo, tinha conhecimento da atuação de alguns investigados.