Parceria depende de aprovação de Lei autorizativa pela Câmara Municipal, já que a Prefeitura pretende gastar cerca de 200 mil reais para viabilizar empreendimento
A Prefeitura firmou parceria com a TV Integração para instalar uma antena digital para que Araguari receba o sinal digital da Rede Globo de Televisão, à qual é filiada a TV Integração. A antena e equipamentos acessórios serão instalados no imóvel onde já estão instaladas as antenas da Rádio Regional e da TV Integração, de propriedade da Rede Integração, qual seja na sede da Rádio FM Regional, que também pertence ao Grupo.
Em Araguari somente os Bairros Santa Helena, Millenium e Amorim conseguem captar diretamente o sinal digital da TV Integração, mas, a rigor, sem maior qualidade. Agora, com a instalação de antena própria para Araguari, toda a cidade vai receber o sinal digital com toda clareza e nitidez.
A parceria depende ainda da aprovação de lei autorizativa específica pela Câmara Municipal, pois a Prefeitura está investindo cerca de 200 mil reais para atender à população local com sinal digital da Rede Globo de Televisão. A antena deverá estar instalada e funcionando plenamente dentro de 90 dias.
Transcrito do Correio de Araguari,
edição de 08/02/2011
Pitacos do blog
Mais um assunto polêmico. O município deve ou não firmar parceria com uma empresa privada para que a cidade receba o sinal de TV digital?
Sabe-se que o Estado (incluídos os municípios nesse conceito) não pode criar restrições à manifestação de pensamento e à difusão de informações. Assim, todos os veículos de comunicação social devem receber o mesmo tratamento dos entes públicos. Nenhum deles pode sofrer intervenções restritivas.
Mas não é só isso. Em regra, o Estado não pode intervir na atividade econômica. Admite-se, contudo, que os entes federativos fomentem (incentivem) determinadas atividades, tendo sempre em mira o atendimento de interesse público.
Dessa forma, a intervenção estatal não é livre. Deve, por óbvio, atender a diversos requisitos. Parece-nos que, no caso, a intenção do governo municipal não preenche os requisitos mínimos para ser considerada legal, moral e razoável.
Inicialmente, o convênio é flagrantemente contrário à isonomia. Ao fomentar atividades econômicas, o município não pode dar tratamento privilegiado a uma empresa em detrimento de outras. Se isso não for observado, estará violando regras da livre concorrência. Afinal, se determinada empresa quiser o lucro, terá que investir, ou seja, suportar os gastos decorrentes. São as leis de mercado.
Na verdade, melhor examinado, o ajuste descamba para violações aos princípios da impessoalidade e da moralidade. administrativa Isso porque, ao que tudo indica, além de discriminar todos os outros veículos de comunicação, visa a retaliar, especificamente, uma rede de rádio e televisão. Como se sabe, uma das concorrentes da Rede Integração, a Rede Vitoriosa, após a derrocada eleitoral de um dos seus proprietários, vem adotando postura extremamente crítica em relação à gestão atual. Isso, obviamente, não tem agradado aos atuais governantes. A concessão desse benefício, então, visaria a angariar a boa vontade da contratada e a prejudicar os interesses da concorrente, erguida à condição de "inimiga" política.
Além disso, há que se observar que esse gasto não é razoável. Como se sabe, o município tem outras demandas mais relevantes que essa. Contudo, por causa da alegada escassez de recursos, vem negando aos cidadãos outros direitos mais essenciais. Para ficar só num exemplo, cito o caso do mamógrafo hoje armazenado ao lado Palácio dos Ferroviários. Esse aparelho deixou de servir à população porque o município não se dispôs a gastar a quantia de 60 mil reais na adaptação das instalações do Pronto Socorro Municipal, onde estava instalado. Paradoxalmente, agora, pretende gastar a importância de 200 mil reais na instalação de um antena digital de TV, beneficiando claramente uma empresa privada.
Por fim, outra falha grave. Essa proposta pode estar viciada por um inegável desvio de finalidade. Conforme referido pelo blog do Wilson Prado, a "ajuda" à Rede Integração seria feita por meio de pagamento pela veiculação de publicidade naquela emissora. Ora, a finalidade da publicidade e da propaganda institucional não é fomentar a atividade privada (custear a instalação de antena digital), mas sim divulgar informações de interesse público. Como os fins previstos no ajuste (publicidade) são diferentes das reais intenções das partes (instalação de antena digital), esse tipo de ato pode ser anulado. Em suma, por qualquer ângulo que se veja a questão, esse convênio é ilegal, imoral e engorda. Logo, a Câmara de Vereadores, se não quiser embarcar em mais uma canoa furada, deve rejeitar essa proposta oriunda do Executivo.