No âmbito nacional, um personagem ficou conhecido como engavetador-geral da República. Trata-se de ex-procurador-geral do Ministério Público Federal, Geraldo Brindeiro. Afirmava-se que ele era condescendente com as irregularidades praticadas pelos "Tucanos" na gestão de Fernando Henrique Cardoso, em especial nos casos das privatizações e da compra de votos para a sua reeleição. Da mesma forma, outro procurador-geral, Roberto Gurgel, chegou a receber essa pecha por engavetar temporariamente a Operação Vegas, que envolvia, inclusive, ministros de tribunais superiores.
Penso que esse título não possa ser atribuído a uma só pessoa. Na verdade, existe toda uma cultura de impunidade, um sistema engavetador. O engavetamento de escândalos é difuso. Não se resume ao âmbito federal. Estados e municípios também têm seus engavetadores. Da mesma forma criou metástases em todos os Poderes.
Araguari não é diferente. Desde maio de 2009, este blog vem acompanhando mais de perto as condutas dos gestores do município. Do pouco que se pôde observar em razão da falta de transparência, já foi possível verificar a ocorrência de diversas irregularidades. Algumas causadas por desconhecimento da legislação administrativa. Falhas perdoáveis, portanto. Outras, manchadas pelas tintas da má fé e que, por isso, deveriam ter sido evitadas ou reprimidas com rigor pelos órgãos de controle.
Araguari não foge à regra. Aqui, os engavetadores de escândalos estão em plena atividade. Aliás, neste exato momento, devem estar dando gargalhadas dos idiotas que, como este blogueiro, ainda insistem em falar de conceitos extremamente abstratos, tais como interesse público, moralidade, legalidade, etc. Mas quais seriam esses engavetadores?
A exemplo do que ocorre Brasil afora, aqui algumas instituições parecem ter sido criadas para não enxergar e vêm cumprindo muito bem esse papel. Querem exemplos? São muitos. Mas, vou citar apenas um dos mais recentes. Os senhores se lembram das inúmeras suspeitas de irregularidades graves que pairam sobre as condutas de agentes públicos locais pegos ou citados em escutas telefônicas captadas pela Operação Tarja Preta? Pois bem, os engavetadores de escândalos araguarinos concluíram, após os trabalhos de uma sindicância e de uma Comissão Legislativa de Inquérito, que nada de errado aconteceu no Gabinete do Prefeito, na Procuradoria-Geral e no Departamento de Licitações e Contratos. Diferentemente, em Goiás, um dos envolvidos, por realizar condutas semelhantes às praticadas em Araguari, está sendo processado criminalmente por pertencer a uma organização criminosa. Até parece que Goiás adota um Código Penal diferente do que vigora em Minas. Nessa linha de raciocínio, não será motivo de espanto se, também, o Ministério Público em Araguari concluir que todos esses fatos não passaram de ficção, mais uma invencionice dos derrotistas de plantão. Seria apenas mais uma vitória do sistema engavetador de escândalos, que continua invicto e ganhando todas de goleada.