A Câmara Municipal de Araguari, por meio de sua Comissão de Segurança, promoveu uma audiência pública para discutir a questão do aumento de número de mortes na BR-050. O assunto é sério. A audiência nem tanto.
Por um lado, é realmente preocupante a quantidade de acidentes, vários com vítimas fatais, que vêm ocorrendo na rodovia, sobretudo entre Uberlândia e o rio Paranaíba. Somente neste ano, 27 pessoas perderam a vida nesse trecho. Problema grave. Passa, sem dúvida, pela imprudência de motoristas e conta com a omissão criminosa do Estado. Assim, por esse prisma, a realização desse evento pela Câmara seria até louvável.
Contudo, como ocorre na maioria das audiências públicas naquela Casa, o que moveu os vereadores não foi somente essa preocupação. O interesse maior, ao que tudo indica, era aparecer na mídia e alavancar futuras investidas eleitorais. É a tal da síndrome do holofote, que atinge algumas autoridades públicas. Alguns fazem pose até para relâmpagos, pensando ser flash.
O porquê das críticas. A Câmara de Vereadores chega imensamente atrasada nessa discussão. Dezenas de vidas pereceram na rodovia e, somente agora, se tomou alguma atitude - de eficácia duvidosa -, diga-se de passagem). Os vereadores permaneceram inertes, por exemplo, quando da construção da nova ponte sobre o rio Araguari. Na ocasião, aventava-se a possibilidade de eliminar diversas curvas perigosissimas nas proximidades do rio. Nada foi feito.
Agora é tarde. O Ministério Público Federal, sempre ele, já saiu na frente. Diante da omissão do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes), ajuizou ação para tentar resolver o problema. Existe, inclusive, decisão judicial determinando a instalação de redutores de velocidade entre Uberlândia e Araguari. Esse, sim, foi um passo importante.
A propósito, os efeitos dessa audiência pública dificilmente ultrapassarão o campo midiático, principal objetivo dos vereadores integrantes da Comissão de Segurança da Câmara. Afinal, se o resultado da audiência se traduzir apenas no envio de requerimentos ao DNIT, ao Ministério Público Federal e ao Ministério dos Transportes, não seria preciso sequer realizá-la. Bastaria que a Câmara encaminhasse ofícios a quem de direito. Enfim, foi mais um jogo para a plateia num assunto tão relevante.
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
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3 comentários:
De tão óbvia, a postagem dispensa comentários...
Eu me lembro muito bem das discussões envolvendo o Consórcio Capim Branco e a BR-050. No começo havia até uma conversa meio que informal (mas habilmente espalhada) que a rodovia seria retificada. Depois o DNIT obrigou o Capim Branco a construir uma ponte maior, prevendo a eliminação das curvas. Só que o Capim Branco, feito dos grupos econômicos mais poderosos do Brasil, bateu o pé e conseguiu até mexer os pauzinhos para que a ponte fosse simples (não sem alguns reflexos na imprensa), e o país, se quisesse, é que arcasse com a construção de ponte bem maior, necessária graças ao alagamento. Ou então pagasse com a vida de seus cidadãos. Nem uma coisa e nem outra sensibilizou ninguém. Final feliz, a represa recebeu o nome de um presidente de uma das empresas mais lucrativas da América Latina: Amador Aguiar, do Bradesco. O fato inegável é que todos gostamos de tragédias. E esquecer das coisas.
Existem várias causas e os efeitos se pagam com a vida, infelizmente. Até mesmo os veículos pesados, que participam da duplicação da BR, num vai-e-vem em que cruzam a pista, acabam por enlameá-la prejudicando as manobras de frenagem e execução das curvas. Tenho dito.
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