PM tenta convencer moradores de rua a voltarem para cidade de origem.
O único albergue do município foi interditado e precisa de reforma.
A campanha "Não dê esmola, dê dignidade", em Araguari, vai orientar a população a não dar esmolas aos moradores de rua. No município do Triângulo Mineiro, uma equipe de assistência social com apoio da Polícia Militar (PM) tenta convencer estas pessoas a voltarem para as cidades de origem.
Três vezes por semana a ronda social percorre pontos que já são conhecidos como abrigo para quem mora na rua, sempre com apoio da Polícia Militar. Das pessoas encontradas na Praça dos Ferroviários, muitas são de outras cidades. Os policiais conferem os documentos para checar de onde eles são. A assistente social faz o convite para que os moradores de rua voltem para casa. "O trabalho é dificil", comentou a assitente social Aparecida Damião.
Para esse trabalho, a prefeitura espera a participação da comunidade. A ideia é incentivar a troca da esmola por uma ajuda para que essas pessoas busquem dignidade. O material da campanha que será distribuído está quase pronto. Segundo a secretária de Trabalho e Ação Social, Virgínia Alcântara, o trabalho deve iniciar em dezembro.
O único albergue da cidade foi interditado e precisa de reforma. Com isso, Araguari não tem onde os moradores de rua possam passar a noite temporariamente. "Pretendemos arrumar um local perto da rodoviária, mas ainda não há data definida", disse a secretária.
Transcrito do Portal G1 - Triângulo MineiroPitaco do Blog
Os governantes sempre encontram saídas geniais para transferir a culpa das mazelas sociais para a população. O caso noticiado é mais um exemplo disso.
A ausência de albergue e a existência de moradores de rua não decorrem de culpa exclusiva da sociedade. No primeiro caso, é responsabilidade única e exclusiva dos governos, em especial do municipal, que, além de não priorizar gastos com assistência social, não realizou a devida manutenção do imóvel onde funcionava o albergue. Resultado: aluguel de outro imóvel (sem licitação) e a realização de despesas com essa campanha. No segundo caso (existência de moradores de rua), há responsabilidade conjunta do estado e da sociedade. As famílias, degradadas, abandonam seus entes "queridos" à própria sorte, e o Estado, omisso, não cumpre a sua função constitucional de prestar assistência social e de reduzir as desigualdades sociais.
O mais impressionante é que a campanha tenta mexer com a solidariedade do povo araguarino (diminui-la, na verdade). Ao sugerir que os cidadãos desconfiem de todo aquele que pede esmolas, o município tenta induzi-los a se afastar do ensinamento cristão de que se deve fazer o bem sem olhar a quem. Se a pessoa tem a convicção de que, dando esmolas, estará fazendo o bem, por que o município se julga no direito de interferir? Não seria mais interessante aplicar melhor os recursos públicos na atividade-fim da assistência social?
Em suma, queremos menos eventos e festinhas bancados com recursos públicos e mais gastos com a dignidade das pessoas que vivem à margem da sociedade.