João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S.Paulo
Sempre se tem cuidado com generalizações, para não atingir os que não se enquadram nelas. Às vezes o sujeito odeia indiscriminadamente toda uma categoria, mas, ao falar nela e, principalmente, ao escrever, abre lugar para as exceções, os "não-são-todos" e ressalvas hipócritas sortidas. Outros recorrem a gracinhas, como na frase do antigamente famoso escritor Pitigrilli, segundo a qual "as únicas mulheres sérias são minha mãe e a mãe do leitor". No caso presente, decidi que as generalizações feitas hoje excluem todos os leitores, a não ser, evidentemente, os que desejem incluir-se - longe de mim contribuir para aumentar nossa tão falada legião de excluídos.
Antigamente, era muito comum ler ensaios e artigos escritos por brasileiros em que nós éramos tratados na terceira pessoa: o brasileiro é assim ou assado, gosta disso e não gosta daquilo. Em relação a maus hábitos então, a terceira pessoa era a única empregada. O autor do artigo escrevia como se ele mesmo não fizesse parte do povo cuja conduta lamentava. Até mesmo nas conversas de botequim, durante as habituais análises da conjuntura nacional, o comum era (ainda é um pouco, acho que o boteco é mais conservador que a academia) o brasileiro ser descrito como uma espécie de ser à parte, um fenômeno do qual éramos apenas espectadores ou vítimas. Eu não. Talvez, há muito tempo, eu tenha escrito dessa forma, mas devo ter logo compreendido sua falsidade e passei a me ver como parte da realidade criticada. Individualmente, posso não fazer muitas coisas que outros fazem, mas não serei arrogante ou pretensioso, vendo os brasileiros como "eles". Não são "eles", somos nós.
Creio que, feita a exceção dos leitores e esclarecido que estou falando em nós e não em inexistentes "eles", posso expor a opinião de que fica cada vez mais difícil não reconhecer, vamos e venhamos, que somos um povo desonesto. Não conheço as estatísticas de países comparáveis ao nosso e, além disso, nossas estatísticas são muito pouco dignas de confiança. Mas não estou preparando uma tese de mestrado sobre o problema e não tenho obrigação metodológica nenhuma, a não ser a de não falsear intencionalmente os fatos a que aludo e que vem das informações e impressões a que praticamente todos nós estamos expostos.
Claro, choverão explicações para a desonestidade que vemos, principalmente nos tempos que atravessamos, em que a impressão que se tem é de que ninguém é mais culpado ou responsável por nada. Há sempre fatores exógenos que determinaram uma ação desonesta ou delituosa. E, de fato, se é assim, não se pode fazer nada quanto à má conduta, a não ser dedicar todo o tempo a combater suas "causas". Essas causas são todas discutíveis e mais ainda o determinismo de quem as invoca, que praticamente exclui a responsabilidade individual. E, causa ou não causa, não se pode deixar de observar como, além de desonestos, ficamos cínicos e apáticos. Contanto que algo não nos atinja diretamente, pior para quem foi atingido.
Ninguém se espanta ou discute, quando se fala que determinado político é ladrão. Já nos acostumamos, faz parte de nossa realidade, não tem jeito. Alguns desses ladrões são até simpáticos e tratados de uma forma que não vemos como cúmplice, mas como, talvez, brasileiramente afetuosa. Votamos nele e perdoamos alegremente seus pecados, pois, afinal, ele rouba, mas tem suas qualidades. E quem não rouba? Por que todo mundo já se acostumou a que, depois de uma carreira política de uns dez anos, todos estão mais gordinhos e com o patrimônio às vezes consideravelmente ampliado? Como é que isso acontece rotineiramente com prefeitos, vereadores, deputados, senadores, governadores, ministros e quem mais ocupe cargo público?
Os políticos, já dissemos eu e outros, não são marcianos, não vieram de outra galáxia. São como nós, têm a mesma história comum, vieram, enfim, do mesmo lugar que os outros brasileiros. Por conseguinte, somos nós. Assim como o policial safado que toma dinheiro para não multar - safado ele que toma, safados nós, que damos. Assim como o parlamentar que, ao empossar-se, cobre-se de privilégios nababescos, sem comparação a país algum.
Em todos os órgãos públicos, ao que parece aos olhos já entorpecidos dos que leem ou assistem às notícias, se desencavam, todo dia, escândalos de corrupção, prevaricação, desvio de verbas, estelionato, tráfico de influência, negligência criminosa e o que mais se possa imaginar de trambique ou falcatrua. E em seguida assistimos à ridícula, com perdão da má palavra, microprisão até de "suspeitos" confessos ou flagrados. A esse ritual da microprisão (ou nanoprisão, talvez, considerando a duração de algumas delas) segue-se o ritual de soltura, até mesmo de "suspeitos" confessos ou flagrados. E que fim levam esses inquéritos e processos ninguém sabe, até porque tanto abundam que sufocam a memória e desafiam a enumeração.
Manda a experiência achar que não levam fim nenhum, fica tudo por isso mesmo, porque faz parte do padrão com que nos domesticaram (taí, povo domesticado, gostei, somos também um povo muito bem domesticado) saber que poderoso nenhum vai em cana. E é claro que, por mais que negue isso com lindas manifestações de intenção e garantias de sigilo (como se aqui, de contas bancárias de caseiros a declarações de imposto de renda, algo do interesse de quem pode ficasse mesmo sigiloso), essa ideia de esconder os preços das obras da Copa tem toda a pinta de que é mais uma armação para meter a mão em mais dinheiro, com mais tranquilidade. Ou seja, é para roubar mesmo e não há o que fazer, tanto assim que não fazemos. Acho que é uma questão cultural, nós somos desse jeito mesmo, ladravazes por formação e tradição.
Transcrito do site do Estadão. Clique aqui para ler.
Rádio Viola - Araguari-MG - 100% caipira!
domingo, 26 de junho de 2011
Santa Maria-RS ensina educação fiscal
O conhecimento e a consciência crítica são ferramentas primordiais para o cidadão reivindicar os direitos que tem. Ainda mais quando se trata dos (altos) impostos pagos e da (péssima) qualidade dos serviços que o contribuinte recebe em troca no Brasil.
Para formar cidadãos conscientes, a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul discute a questão fiscal em sala de aula desde 2002. A prefeitura implantou um projeto pedagógico de Educação Fiscal e cadastra as escolas nas atividades propostas.
O debate gira em torno de questões como: “Temos uma alta carga tributária comparada a qualidade dos serviços públicos prestados? Ou talvez, em relação a má gestão dos recursos públicos? Ou ela é alta em função da sonegação, da corrupção?”
Fonte: Exame.com
Clique aqui e veja algumas atividades do Programa Municipal de Educação Fiscal de Santa Maria-RS
Para formar cidadãos conscientes, a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul discute a questão fiscal em sala de aula desde 2002. A prefeitura implantou um projeto pedagógico de Educação Fiscal e cadastra as escolas nas atividades propostas.
O debate gira em torno de questões como: “Temos uma alta carga tributária comparada a qualidade dos serviços públicos prestados? Ou talvez, em relação a má gestão dos recursos públicos? Ou ela é alta em função da sonegação, da corrupção?”
Fonte: Exame.com
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sexta-feira, 24 de junho de 2011
O toco
Vira e mexe a mídia com o seu poder de persuasão nos apresenta um novo astro, um fenômeno, um talento raro como Susan Boyle, Luan Santana, Justin Babier. Não é que em Araguari um toco ganhou fama da noite pro dia? Tanto que até o secretário de Serviços Urbanos, Cândido Arruda não aguenta mais falar do tal “toco” e até pediu para a imprensa esquecer o personagem.
Como disse o radialista Valmir Brasileiro “o toco está lá, imponente e desafiador”. E quem quiser conferir o “Toco Astro” tem que ir rapidinho à Praça Manoel Bonito, antes que lhe tirem a altivez.
O toco já é pré-candidato a prefeito nas próximas eleições e tem até um vice de peso. Trata do exsecretário de Saúde Edilvo Mota. Ele posou para uma foto postada num site de relacionamento onde declara ser candidato a vice. Já tem gente querendo protocolar representação na Justiça Eleitoral acusando o toco e o ex-secretário por propaganda extemporânea... Pode?
Transcrito do Jornal Tribuna, edição de 21/06/2011
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Matutando...
Se um vereador - que consome, hoje, 6 mil reais com assessoria - acredita que será possível gastar somente a metade a partir de 2012, por que não cortar imediatamente essas despesas? Tem algo errado nessa história... Ou as contas estão erradas. Ou os gastos atuais são exagerados (entenda-se: estão jogando dinheiro público fora).
Aumento do número de vereadores
Como se sabe, o município, caso altere sua Lei Orgânica até o início de outubro deste ano, poderá ter, a partir das próximas eleições, até 17 vereadores. Nesse sentido, já tramita na Câmara um Projeto de Emenda à Lei Orgânica .
Na pesquisa realizada aqui no blog, verifica-se que a maioria dos leitores (71%) é contra esse aumento. O restante (29%) entende que o aumento do número de cadeiras é necessário.
Particularmente, defendo o aumento do número de vereadores. Entendo que esse aumento proporcionaria maiores oportunidades de outros segmentos sociais serem representados na Casa. Isso, inclusive, permitiria o surgimento de novas lideranças locais, tão necessárias para mudar o modo de fazer política na cidade.
Agora, não nos iludamos. O simples fato de aumentar a representatividade popular na Câmara não irá resolver os problemas verificados no Legislativo. É preciso mais. Se aquela Casa continuar cometendo os mesmos erros de sempre, nada mudará. Precisamos de uma caixa de ressonância dos interesses populares, não de uma caixa-preta, como a que temos hoje. Ética e transparência são o mínimo a que temos direito.
Por fim, é preciso ver com cautela a afirmação de que o aumento do número de vereadores não irá impactar nos gastos públicos da Câmara. Historicamente, tem-se comprovado que os gastos públicos tendem sempre a aumentar. Tanto isso é verdade que foram criados mecanismos de contenção, a exemplo da Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, a vigilância da sociedade deverá ser redobrada para evitar o uso de artifícios (contábeis, jurídicos, etc.) para aumentar os repasses feitos mensalmente à Câmara pela Prefeitura.
Na pesquisa realizada aqui no blog, verifica-se que a maioria dos leitores (71%) é contra esse aumento. O restante (29%) entende que o aumento do número de cadeiras é necessário.
Particularmente, defendo o aumento do número de vereadores. Entendo que esse aumento proporcionaria maiores oportunidades de outros segmentos sociais serem representados na Casa. Isso, inclusive, permitiria o surgimento de novas lideranças locais, tão necessárias para mudar o modo de fazer política na cidade.
Agora, não nos iludamos. O simples fato de aumentar a representatividade popular na Câmara não irá resolver os problemas verificados no Legislativo. É preciso mais. Se aquela Casa continuar cometendo os mesmos erros de sempre, nada mudará. Precisamos de uma caixa de ressonância dos interesses populares, não de uma caixa-preta, como a que temos hoje. Ética e transparência são o mínimo a que temos direito.
Por fim, é preciso ver com cautela a afirmação de que o aumento do número de vereadores não irá impactar nos gastos públicos da Câmara. Historicamente, tem-se comprovado que os gastos públicos tendem sempre a aumentar. Tanto isso é verdade que foram criados mecanismos de contenção, a exemplo da Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, a vigilância da sociedade deverá ser redobrada para evitar o uso de artifícios (contábeis, jurídicos, etc.) para aumentar os repasses feitos mensalmente à Câmara pela Prefeitura.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Araguari é a terra das brincadeiras infantis
Abre aspas para o professor Marcos Lander no facebook:
"Araguari é a terra das brincadeiras infantis.
No momento da eleição da mesa diretora do Legislativo (principalmente o cargo de presidente), eles brincam de pique-esconde e ninguém acha os vereadores. No dia da eleição, eles brincam de ciranda-cirandinha, porque todos chegam juntos numa van, de mãos dadas e, de rodinha, entram na câmara.
Depois, a brincadeira do siga o mestre, pois o que um fala todos repetem. E pra encerrar, a brincadeira do balança-caixão. Que dá um tapinha e vai esconder..."
terça-feira, 21 de junho de 2011
Secretaria de Trânsito e os músicos ilusionistas
O novo modelo de administração pode cometer muitos erros. Mas, convenhamos, quando o assunto é comprar opiniões, esse governo é imbatível.
Nesse ponto, a gestão Marcão funciona como uma orquestra, extremamente afinada. Os músicos são conhecidos de outros carnavais: Valmir Brasileiro, Astério de Souza Mota...
A melodia do momento é a criação da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Segurança. Ensaios à exaustão. Falácias em profusão. Cigarras estridentes. Argumentam, de forma terrorista, que a criação do órgão acabará com as mortes no trânsito da cidade. Grande mentira!
O mais interessante é que esses músicos tocam de ouvido. Duvido que sequer tenham lido a partitura, ou melhor, o tal projeto de lei que cria a secretaria. Mesmo assim, defendem insistentemente a proposta governamental.
Apesar do talento dos músicos e dos exaustivos ensaios, o resultado pode não ser um sucesso de público e de crítica. Falhas graves. As vaias serão inevitáveis. Esqueceram de dizer para o povo que a nova secretaria vai ser mais um cabide de empregos, uma vez que serão criados, no mínimo, mais sete cargos comissionados. Fazem questão de omitir que esse tipo de projeto gera despesas com pessoal, instalações e equipamentos, mas nem sempre produz bons resultados. Exemplos? A criação do Departamento de Medicamentos comprova isso: seis comissionados e zero medicamentos. Não têm coragem de esclarecer à sociedade que outras cidades, como Patos de Minas, estão adotando o caminho correto e realizando concursos para a contratação de agentes de trânsito, que exercerão as funções de fiscalização de trânsito e outras pertinentes.
Em suma, temos um governo muito bom na hora de comprar opiniões e de acomodar os apaniguados às custas do dinheiro público. Em contrapartida, na hora de prestar serviços públicos, esse mesmo governo não mostra tanta eficiência.
Nesse ponto, a gestão Marcão funciona como uma orquestra, extremamente afinada. Os músicos são conhecidos de outros carnavais: Valmir Brasileiro, Astério de Souza Mota...
A melodia do momento é a criação da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Segurança. Ensaios à exaustão. Falácias em profusão. Cigarras estridentes. Argumentam, de forma terrorista, que a criação do órgão acabará com as mortes no trânsito da cidade. Grande mentira!
O mais interessante é que esses músicos tocam de ouvido. Duvido que sequer tenham lido a partitura, ou melhor, o tal projeto de lei que cria a secretaria. Mesmo assim, defendem insistentemente a proposta governamental.
Apesar do talento dos músicos e dos exaustivos ensaios, o resultado pode não ser um sucesso de público e de crítica. Falhas graves. As vaias serão inevitáveis. Esqueceram de dizer para o povo que a nova secretaria vai ser mais um cabide de empregos, uma vez que serão criados, no mínimo, mais sete cargos comissionados. Fazem questão de omitir que esse tipo de projeto gera despesas com pessoal, instalações e equipamentos, mas nem sempre produz bons resultados. Exemplos? A criação do Departamento de Medicamentos comprova isso: seis comissionados e zero medicamentos. Não têm coragem de esclarecer à sociedade que outras cidades, como Patos de Minas, estão adotando o caminho correto e realizando concursos para a contratação de agentes de trânsito, que exercerão as funções de fiscalização de trânsito e outras pertinentes.
Em suma, temos um governo muito bom na hora de comprar opiniões e de acomodar os apaniguados às custas do dinheiro público. Em contrapartida, na hora de prestar serviços públicos, esse mesmo governo não mostra tanta eficiência.
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