O vereador
Raulzinho inventou a roda. Exaltado, na tribuna da Câmara, o edil, que também é um dos
proprietários da Rádio Planalto, tornou pública a sua grande descoberta: o jornal
Correio de Araguari é tendencioso! Are baba!!!
O motivo da ira do nobre edil é singelo. O periódico, criado apenas para elogiar os feitos e intenções do governo, informou que a paternidade pelo recebimento de recursos para reforma do prédio da antiga
Cia Prada não era do vereador, mas sim do senhor
Jubão, que formalmente ocupa o cargo de
vice-prefeito da cidade.
Por outro lado, o periódico, na sua edição de quinta-feira, respondeu imediatamente às críticas desferidas pelo vereador. Um dos que se encarregaram dessa missão foi o jornalista,
radialista e comissionado da Prefeitura
Limírio Martins Parreira, que assina a coluna
Salada Mista naquele jornal. Nada mais natural que um servidor da Prefeitura - pago com os nossos tributos, portanto - fizesse a defesa dos seus chefes e do jornal no espaço adequado (segundo o vereador Raul Belém, o jornal funciona graças aos recursos recebidos do município).
Do episódio, extraímos algumas conclusões.
Primeiro, a maioria dos nossos órgãos de imprensa não é, minimamente, imparcial. Como falado anteriormente neste blog, de um lado, temos o referido jornal defendendo
ferreamente o governo e, de outro, os jornais
Contudo e
Acontece fazendo as vezes de oposição, por vezes cega e
inconseqüente.
Segundo, no episódio, tivemos o sujo falando do mal lavado. É que, a exemplo do que acontece com o
Correio de Araguari, também a Rádio Planalto, que é de propriedade da família do vereador, vem sendo utilizada para fins políticos, ou seja, para divulgação das qualidades e feitos do edil.
Terceiro, o ilustre vereador perdeu
ótima oportunidade de dar mais
transparência à gestão pública. Isso porque, apesar de afirmar que recursos públicos são canalizados para o referido jornal, ele não deu nome aos bois, ou melhor, não disse quem paga e o quanto é pago ao
Correio de Araguari. Ainda está em tempo, nobre edil...
Quarto, a função de informar está sendo perigosamente deturpada na cidade, misturando-se o interesse público com o interesse meramente particular ou de grupos políticos. Comprovam isso o fato de alguns jornais e emissoras de rádio pertencerem a grupos políticos ou serem dirigidas por vereadores, bem como a
circunstância de boa parte dos
profissionais de imprensa ter sido "empregada" (comissionados, obviamente) pelos Poderes Executivo e Legislativo.
Outras conclusões poderiam ser arroladas, mas não quero abusar mais da paciência dos que se atreveram a ler esta postagem até aqui.
Por fim, uma constatação-síntese: quem perde somos nós. Afinal, estamos fomentando a criação e funcionamento de veículos de imprensa que servem, paradoxalmente, para nos desinformar.