Rádio Viola - Araguari-MG - 100% caipira!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Resgatando a história.



















Quero enaltecer o trabalho da pesquisadora Teresa Cristina de Paiva Montes Cunha, parte dele reproduzido no seu blog http://teresacriscunha.blogspot.com/ .
Em especial, quero render-lhe homenagem pela preocupação em preservar a história de Araguari e de sua gente. Destaca-se, nessa linha, a recente matéria sobre o nosso saudoso Mário Nunes, grande araguarino que, valendo-se do seu carisma, competência e talento, divulgou, como ninguém, o nome da nossa cidade em todo o território nacional.
Nessa postagem (http://teresacriscunha.blogspot.com/2009/07/os-mil-e-um-mario-nunes.html), a autora já nos brinda com interessantes histórias do mestre Mário Nunes. Com certeza, do seu trabalho de garimpagem brotarão outras tantas passagens interessantes da vida do maior desabotoador de camisas deste planeta. Afinal, a vida do Mário é um belíssimo livro. São histórias e mais histórias que necessitam ser eternizadas.
Por fim, acredito que uma das grandes virtudes do Mário foi a de incutir nas pessoas a consciência da necessidade de se amar e preservar a história e a cultura de uma cidade. Nesse ponto, encontra-se, também, uma das características da pesquisadora Teresa Cristina, que, tal qual o mestre de todos nós, vem batalhando para manter viva a bela história da nossa cidade a partir do resgate da trajetória dos nossos antepassados. Como ela mesma diz, "registrar a história é o primeiro passo para entendermos o passado e através de sua experiência, vivermos o presente e planejarmos o futuro.". Parabéns!

Existe político honesto?

Acredito que o maior pecado que podemos cometer é a generalização apressada. Assim, mesmo sendo dificil a tarefa de encontrar um político honesto, não podemos generalizar, afirmando que todos são iguais (ou seja, não prestam).
Embora não se cuidando da realidade araguarina, trago uma comparação dos gastos dos deputados distritais com a denonimada verba indenizatória nos anos de 2007, 2008 e 2009 (1º trimestre). Tal verba, convém frisar, destina-se a custear as depesas dos parlamentares com combustíveis, assessorias especiais e divulgação da atividade parlamentar. Pelo exame desses gastos, vê-se que um deputado gastou menos de 10% do que foi consumido pelo lider da gastança. Como isso é possível? Se um deputado conseguiu desempenhar bem o seu mandato gastando tão pouco, por que os demais não podem fazê-lo? Quais os critérios para comprovação desses gastos?
Embora não reflita, necessariamente, o que ocorre em Araguari, o tema é interessante, na medida em que, na nossa cidade, sequer é feita essa prestação de contas dos gastos dos vereadores. Não sou eu o autor dessa afirmação. O Vereador Werley Macedo cobrou da Presidente da Câmara a prestação de contas dos recursos geridos pela Casa. Também, o juiz aposentado e articulista Dr. Rogério Fernal já teceu considerações sobre essa ausência de transparência dos gastos do Legislativo araguarino.
Voltaremos ao tema. Por ora, reproduzo os gastos dos deputados distritais, para que cada extraia suas conclusões sobre o assunto:
Veja quanto cada deputado gastou com verba
indenizatória (2007 + 2008 + 1º semestre de 2009)
Distrital Total
Wilson Lima (PR) R$ 336.310,72
Batista das Cooperativas (PRP) R$ 334.337,94
Junior Brunelli (DEM) R$ 332.160,00
Bispo Renato (PR)/Agnaldo de Jesus (PRB) R$ 330.023,59
Paulo Roriz (DEM)/Geraldo Naves (DEM) R$ 327.701,03
Leonardo Prudente (DEM) R$ 327.039,41
Eurides Brito (PMDB) R$ 325.352,60
Dr. Charles (PTB) R$ 322.289,94
Paulo Tadeu (PT) R$ 320.730,80
Jaqueline Roriz (PSDB) R$ 320.281,69
Benício Tavares (PMDB) R$ 315.017,80
Raad Massouh/Eliana Pedrosa R$ 314.074,01
Raimundo Ribeiro (PSL)/Luzia de Paula (PSL) R$ 310.720,01
Cabo Patrício (PT) R$ 305.766,77
Cristiano Araújo (PTB) R$ 298.758,57
Alirio Neto/Claudio Abrantes (PPS) R$ 295.506,15
Rogério Ulysses (PSB) R$ 293.135,58
Pedro do Ovo (PMN)/Aylton Gomes (PMN) R$ 285.944,96
Benedito Domingos (PP)/Berinaldo Pontes (PP) R$ 280.440,45
Erika Kokay (PT) R$ 276.355,26
Chico Leite (PT) R$ 264.832,40
Roberto Lucena (PMDB)/Roney Nemer (PMDB) R$ 257.291,01
Miltom Barbosa (PSDB) R$ 44.387,10
José Antônio Reguffe (PDT) R$ 26.136,61

Suicídio Parlamentar

A propósito do texto Ranhuras na democracia, belo desabafo da Marília Alves Cunha no Blog do Aloísio (http://portaldearaguari.blogspot.com/2009/08/ranhuras-na-democracia.html), reproduzo abaixo fragmentos de um artigo escrito pelo Dr. Saulo Ramos na Revista Advogado, da Associação dos Advogados de São Paulo. Apesar de ser um texto jurídico, Entortaram o Estado de Direito caracteriza-se, também, por ser uma espécie de desabafo do autor contra a falta de independência e de ética do Poder Legislativo Federal.
Mesmo correndo o risco de não transcrever partes fundamentais do artigo, penso que os trechos abaixo traduzem, com fidelidade, o pensamento do autor:

Promulgada a Constituição em 1988, o povo brasileiro esperava soluções fundamentais para o novo Estado de Direito: governos honestos, comprometidos com a ética e a moral (art. 37), e democracia com absoluta independência dos poderes (art. 2º), de forma que o Legislativo, livre do jugo do Executivo, pudesse cumprir seus deveres, antes amordaçados pela Ditadura que o transformou numa caricata assembleia da ladainha dos “améns”. Acabou o regime totalitário, escancarou-se a porta para todas as esperanças.

A Lei Maior, que nasceu com 315 artigos, 946 incisos, 596 parágrafos, 203 alíneas, dependia da edição, pelo Legislativo, de 248 leis ordinárias e 41 leis complementares, as chamadas normas de concreção, para possibilitar funcionamento pleno da sonhada conquista democrática. Trabalho imenso e sério. Depois de promulgada a Constituição dos Estados Unidos, Thomas Jefferson declarou que as leis passariam a ser elaboradas pelos melhores homens da sociedade americana. Não estou seguro de que isso aconteceu lá, mas, com certeza, aqui não aconteceu depois da Constituição de 1988. Aquelas esperanças, escancaradas pela porta das liberdades, morreram.

Tanto os governos que se seguiram à promulgação da Constituição brasileira de 1988 como as legislaturas tornaram-se completa decepção se analisados sob o ponto de vista da disposição de trabalhar e de legislar bem. (...)

O que ocorreu nesses 20 anos? Nos Governos Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula, a austeridade ética foi minada, desrespeitada, violentada, transformada em matéria declamatória, mas banida da prática administrativa e política na União, nos Estados e nos Municípios. Restaram exceções raras, que poderão servir de sementes para o futuro. O presente já está estragado e de tal forma que não provoca reações do povo, tomado por uma indiferença patética semelhante a estátuas de museu. O assustador silêncio dos bons. Ou pior ainda: a indiferença dos descrentes.

2. Emendas constitucionais quase todas do Executivo

Não estou escrevendo um crítico comentário meramente político. Escrevo um lamento profundo. Chamo a atenção para essa tragédia moral porque acabou por desfigurar o próprio Estado de Direito ao voltar a reduzir o Poder Legislativo ao nada que era durante a Ditadura Militar.

Se examinarmos as 56 emendas constitucionais promulgadas nesses 20 anos, verificamos que apenas algumas vieram para corrigir erros crassos, como, dentre outros, aqueles de juros no Texto Constitucional, garimpeiro na ordem econômica, empresa brasileira de capital nacional e Tribunal como paciente de habeas corpus.

A grande maioria das emendas foi obra do Poder Executivo para fortalecer-se e desequilibrar a independência dos Poderes. Incrível como o Poder Legislativo aceitou pacificamente esse avanço truculento do Executivo sobre o Princípio Fundamental do Estado de Direito. O art. 2º da Constituição, inserto nos Princípios Fundamentais pela Constituinte de 1988, está derrogado na prática. Não há mais independência dos Poderes. Restou apenas harmonia entre os poderosos.

O Executivo voltou a dominar o Congresso Nacional exatamente como no tempo da Ditadura Militar. Não utiliza força ou cassação de mandatos, mas obtém o mesmo efeito por meio de persuasões políticas inconfessáveis, mensalão, empregos, cargos, diretorias de estatais, criação de ministérios com um número imensurável de sinecuras e de vagas preenchidas por nomeações de cabos eleitorais sem nenhum critério técnico. Estabeleceu-se entre esses dois Poderes um mercado de subornos recíprocos, um balcão de trocas de vantagens. Foram transformados em poderes sem pudores. Parlamentares, no sistema presidencialista de governo, são nomeados Ministros de Estado, ou eles próprios negociam sua adesão ao Executivo mediante concessão de empregos e cargos aos seus corretores eleitorais. Essa forma de cooptação dos mandatários passou a ser chamada de “base”. Não há mais legisladores ou fiscais do Executivo. Há os baseados. Cargos e verbas estupefacientes que alucinam. Deputados e Senadores empenhados e penhorados para vencer as próximas eleições e voltar aos cargos e aos negócios, viagens ao exterior para amigos, parentes e amantes, facilitação em licitações de obras. Castelos medievais nas veredas das Gerais, farra das passagens aéreas que merecem passagem pela polícia. A Administração Pública, em todos os níveis de governo, está infestada de elementos eleitoreiros, sem competência técnica, sem cultura e sem instrução para comandar as soluções dos problemas nacionais, estaduais e municipais.

Aquilo que se via na Ditadura, sargentos, tenentes, capitães, coronéis, instalados em funções civis, foi substituído por ex-sindicalistas, falsos líderes de comunidades urbanas, invasores de áreas rurais, desde que assegurem dividendos eleitorais. Invariavelmente são nomeados por indicação dos partidos políticos da base governamental, o que transformou Senadores, Deputados, Vereadores em dóceis acionistas do Poder Executivo para aprovarem qualquer proposição das assembleias gerais dessas associações, chamadas de parlamentos, onde, além de turismo com o dinheiro público, chegou-se à desfaçatez de pagar-se empregadas domésticas com verba de gabinete ou de usá-las para compor sociedades fictícias para receber comissões. Essa degradação fez a democracia brasileira perder um dos seus fundamentos basilares: a independência do Poder Legislativo. Em consequência, perde a legitimidade e o respeito do povo, que, a cada dia, passa a endeusar os Chefes do Executivo, transformados em monarcas temporários e só não ungidos pelo absolutismo em razão do Judiciário e da imprensa livre.

3. Suicídio parlamentar

Os próprios parlamentares, por mais incrível que pareça, colaboram para o avanço do Executivo contra eles. O sonhado sistema de pesos e contrapesos foi transformado na politicalha dos grampos e contragrampos, jamais imaginado por Montesquieu.

Por meio de sucessivas emendas de iniciativa do Executivo, promoveu-se uma verdadeira reforma constitucional que levou o Brasil de volta a um tipo de ditadura institucionalizada. Fizeram, no nosso Direito Constitucional, tantos estragos quanto os terroristas de Bin Laden nas Torres Gêmeas de Nova York. (...)

domingo, 9 de agosto de 2009

Curtas

Sobrou para o marisco...
Na briga entre a motosserra e o eucalipto, quem levou a pior foi o Amendoim...

Tá chegando a hora....

Daqui a aproximadamente 100 dias Araguari terá o seu hospital municipal em funcionamento. Até lá, não convém ficar doente...

Ética médica

Será que essa matéria foi expulsa dos currículos das faculdades de Medicina?! Pelo comportamento de alguns profissionais médicos, parece que sim. Em Araguari, conforme apregoado pelo jornalista Carlos Machado, pratica-se a política de saúde do "quanto pior, melhor". Traduzindo: os médicos atendem mal no serviço público para captar a clientela desesperada para os seus consultórios particulares. Uma vergonha!

Are baba!!!

Sarney, ninguém te aguenta mais! Eu sei que você é imortal, mas isso não lhe assegura o direito à perpetuidade na direção do Senado... Como diz o Capitão Nascimento, do BOPE, pede pra sair!

Viva a sujeira!

A coisa anda tão feia para o lado da moralidade que até os poucos senadores sérios já estão desistindo de bater no moribundo de fogo, afinal quem briga com porco acaba colocando o pé na lama.

Derrotado antes de entrar em campo...

O que aconteceu com o Fluminense de Araguari? Sinceramente, não é possível entender como o clube, que se preparou com antecedência para a disputa da "Segundona", não conseguiu regularizar doze jogadores para a partida de estréia.

Quando a esmola é muita, até Nossa Senhora da Abadia desconfia...

Um grupo de vereadores da cidade montou uma barraca no caminho da cidade de Romaria com a alegada finalidade de apoiar os romeiros na caminhada até o Santuário de Nossa Senhora da Abadia. A ação pode até ser motivada pelas melhores intenções. Contudo, alguns aspectos dela são questionáveis. Primeiro, parece não ser essa a função dos vereadores, que deveriam "apenas" legislar e fiscalizar (o que eles fazem muito mal, diga-se de passagem). Segundo, não se sabe ao certo qual a fonte de recursos que banca esse tipo de serviço (seriam recursos públicos?). Terceiro, aparentemente há desvio de finalidade na ação, que me parece ser movida mais por interesses eleitoreiros do que, propriamente, por fins altruísticos.

Meu velho pai



Eu poderia tentar homenagear meu velho pai de várias formas. Nenhuma delas traduziria com precisão o orgulho que sinto por ser filho dele. Afinal, ao lado da dona Teresinha, eles construíram uma belo lar, alicerçado, sobretudo, em palavras e ações sempre corretas. Embora cheio de defeitos adquiridos mundo a fora, eu sempre procurei me espelhar nos exemplos de vida desses dois seres humanos especiais.

Faltando-me palavras para agradecê-lo, reproduzo aqui uma crônica do amigo Aristeu, que, seguindo meus passos, tornou-se um fã do senhor Antônio. Feliz dia dos Pais, senhor Antônio. Se Deus quiser, daqui a duas semanas, no seu aniversário de 80 anos, estarei fisicamente aí.


O PURGATÓRIO E O PARAÍSO


Cheguei a Araguari no dia três corrente, “ontonte”, para uma visita relâmpago. Meu pendrive carregava uma pequena imagem retirada do “Google Earth”, um site e programa sobrecarregado de tomadas aéreas dos satélites Landsat, Spot e Ikonos.

Este meu conhecimento é derivado de minha antiga atividade profissional – militar topógrafo.

As imagens dos satélites têm diferenças gritantes. O Landsat fotografa o planeta em tons de cinza, pouco se identifica visualmente os acidentes terrestres. Os rios são veios negros.

O Spot substitui os tons cinza por cores mais agradáveis, tornando possível visualizar estradas, matas, lavouras, sedes de fazendas e outros panoramas.

O satélite Ikonos, com sua órbita mais próxima e através de informações digitais modernas nos traz poses terrestres com uma resolução de setenta centímetros, por exemplo, dá pra se identificar qualquer objeto maior que um pneu de fusca. Pneu de fusca não é um exemplo clássico, mas foi a primeira coisa que eu vi de uma imagem desta e que me marcou - claro que o pneu estava no fusca ou então seria um pneu qualquer.

Minha intenção era pegar a imagem do pendrive e imprimi-la num cartaz, mas três informações erradas, de onde haveria um ploter araguarino, fizeram-me desistir da idéia! A visita era relâmpago.

Parei mesmo num estúdio fotográfico, na Marciano Santos com Teodolino, e mandei copiar. Atendimento muito bom ali. Consegui uma emulsão fotográfica de aproximadamente vinte por trinta, centímetros, daquele pedaço de chão. Se a visita não fosse corrida e eu aguardasse o dia seguinte, o laboratório, através da filial em Uberlândia, ampliaria para o dobro, mas dava pra enganar o Seu Antonio.

Seu Antonio é gente sistemática de Araguari. Este “sistemática” é uma palavra, digamos coletiva, e representa um conjunto de virtudes como honestidade, brio, simplicidade, sabedoria pertencentes a pessoas trabalhadoras.

Seu Antonio teimoso e dona Terezinha teimosa moram, ou teriam raízes, no bairro Goyaz, desde o tempo em que se escrevia assim. São teimosos, no bom sentido, de não quererem morar com os filhos e, por incrível que pareça, têm vergonha que os filhos os ajudem. Como se tudo que os filhos fossem não fosse fruto da dedicação deste casal. Como a inveja habita em mim, neste momento, veja o plágio, “queria ter uns pais assim”.

Assim que cheguei à porta ele estava na espreguiçadeira arquitetando alguma coisa, pois o semblante era arteiro. Saudei-o, “tirando um sarro” ou sacaneando, dos tempos modernos:

- Seu Antonio, o quê tanto fez pra merecer tal descanso?

- O meu pai trabalhou muito e eu não preciso trabalhar.

Ele é assim zombeteiro quando dão brecha e suas tiradas são clássicas de um trabalhador rural.

Imediatamente reclamou-me que o “filho distante” colocou todas as suas contas e de dona Terezinha para serem pagas diretamente no banco distante. Nem mais preocupação com cortes por atrasos, apesar de nunca ter atrasado, eles têm mais. Ir ao banco nunca mais. Como gastar a aposentaria? Os filhos não deixam... Se brincar eles vão devolver ao INSS. Quem planta, colhe, seu Antonio, na proporção bíblica cem por um.

Seu Antonio ainda é artífice da madeira. Digo que é o terceiro carpinteiro do planeta – os dois primeiros são José e Jesus! Como marceneiro, ele é outras infinidades de coisas, produziu a espreguiçadeira bem talhada, nota-se qualquer um o esmero do cara. Ela está acorrentada, pois os “amigos do alheio” levaram o restante do conjunto. Um casal de aposentados é como tirar doce de criança, mas seu Antonio é perigoso. Ele fez umas armadilhas por lá, homem do mato... Tem linha de pescador espalhada que, tropeçadas por desconhecidos, derrubam latas do telhado, calçada em falso que, caso não se pise bem no meio, ela manca e os ouvidos atentos percebem o visitante antes mesmo do soar da campainha. Eu só entro de mãos dadas com ele...

A foto que levei ao seu Antonio é das terrinhas em que foi criado juntamente com dez irmãos, ou seriam onze? Até hoje pertence à família, mas a geração urbana pouco se importa com aquelas paragens, só em férias e olhem lá.

Os olhos dele, após a colocação dos óculos, tiveram um brilho e pareceu-me que iriam regar os cílios. O senhor fortaleza iria produzir uma lágrima, mas um engolir em seco acabou por fabricar um sorriso, largo, satisfeito, saudoso, agradecido...

As terrinhas, o seu Paraíso, dão pouco mais de vinte hectares ou algo em torno de quatro e meio alqueires, linguagem de medida que eles conhecem. Sustentaram-se com apenas a metade das terras, pois a reserva natural é estupenda, quase a outra metade. Os herdeiros são muitos, pois são gerações abençoadas como a quantidade de grão da areia do deserto bíblico.

Ele mostrou-me uma mancha no meio do mato e, tal mancha, fora produzida por uma derrubada clandestina com participação até das máquinas do Batalhão.

O irresponsável quis indenizar o prejuízo, mas seu Antonio falou que era impossível repor a mata e a prova estava ali naquela foto quarenta anos depois.

As terras paradisíacas estão na barra, ou seja, confluência, do Rio Jordão com o córrego Taquaral, abaixo de Amanhece.

Seu Antonio ensinou-me que a localidade tem tal nome devido a uns padres que pregavam na zona rural. Eles, como Jesus em lombo de um burro, iam pelos lugarejos batizando, casando, escomungando e, só lá chegavam, ao amanhecer do dia de domingo.

O título desta crônica está explicado pela metade. A outra metade, o Purgatório, refere-se aos caminhos que se deve tomar para lá chegar. O caminho do Céu é estreito e piramba. Pirambeira é a palavra que se encaixa. Você desce com certeza, mas não sabe se volta e, caso volte, o tempo é mais que o dobro.

Quando lá fomos, inclusive pra atrasar mais ou emocionar a aventura, uma chuva e um pneu furado fizeram-se presentes, além de dois candidatos a mentirosos que insistiam em querer pescar. Acho que só pegariam alguma coisa na piracema. Tão experientes eles que se os deixássemos na beira de uma poça de chuva eles espetariam a minhoca.

Foram doze quilômetros de estrada ruim com seriemas rindo de nós acrescidos de mais duas léguas de asfalto de primeira grandeza e última geração.

Seu Antonio fazia este caminho de bicicleta. Ela ainda está lá encostada junto à marcenaria. Acho prudente que se dê um fim à bicicleta antes que seu Antonio, inspirado na foto, monte na mesma e pedale em busca de sua verdadeira e inesquecível morada.

Além da idade que não colabora muito, seu Antonio ostenta no peito um coração cicatrizado por bisturi. O coração é grande demais e, um tanto convencido, acho que tenho um pedacinho lá.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A ficha ainda não caiu.

ELIO GASPARI
Renuncie, homem. Aqui somos três a pedi-lo. Eu, o Milton Campos e o Pedro Aleixo, três amigos, velhos companheiros a quem você admirava com sorriso encantado quando chegou à Câmara, em 1959, aos 29 anos. Todos três passamos por momentos em que nos enganamos quando as circunstâncias se confundiram com a existência. Na renúncia do Jânio eu era ministro das Relações Exteriores e deveria ter defendido, desde o primeiro momento, a posse do doutor João Goulart. Em 1964, diante dos primeiros casos comprovados de tortura, o Milton deveria ter renunciado ao Ministério da Justiça. O Pedro Aleixo reconhece que naquela reunião que editou o AI-5 ele devia ter devolvido a vice-presidência. Um ano depois, apearam-no. Nos três casos, as circunstâncias indicavam que devíamos fazer o que fizemos. Confundidos, pensávamos que não havia opção melhor. Você sabe que a modéstia nunca foi um dos meus atributos: não percebemos quão grandes éramos. Com justos motivos você avalia suas opções levando em conta o que diz o presidente Lula, o apoio do senador Renan Calheiros e até mesmo a agressiva defesa representada por Fernando Collor. Você pensa até no PMDB. Tudo circunstancial. Em 1988 Lula te chamou de "incapaz" cinco vezes em 43 segundos. O que haveria de pensar o jovem José Sarney se visse a mim, ao Milton e ao Pedro almoçando no Bife de Ouro com o Tenório Cavalcanti e o Amaral Neto? Claro que pouca gente sabe quem são esses dois (nem estamos aqui para reapresentá-los). Assim como os jovens de hoje não lembram o que foi a UDN, os de amanhã não lembrarão o que foi o PMDB. Renuncie, homem. Saia desse contratempo e carregue seus penares. A crise é sua, mas, a esta altura, ela interessa aos outros. Ao Lula convém um Congresso desmoralizado. Aos aliados do PMDB interessa mostrar que têm os poderes dos embalsamadores. Fuja do sarcófago. Censurar jornal, José? Chantagear o Pedro Simon, Sarney? Esse não é nosso patrimônio. O presidente que ficou impassível enquanto seu ônibus era apedrejado e riscou com o traço da bonomia sua passagem pela vida pública, está se apedrejando. Orgulhamo-nos da tua alvorada. Não compartilhe o crepúsculo com os senadores Calheiros e Collor. O Antonio Carlos Magalhães diz que isso é feitiço de um certo Bita do Barão, com seus tambores de Codó. Milton Campos e Pedro Aleixo pediram-me que escrevesse porque insistem em lembrar a qualidade do meu discurso de 9 de agosto de 1954. Até hoje sofro por esse ataque ao Getúlio Vargas. Não que devesse poupá-lo, mas padeço pelo que sucedeu quinze dias depois. (Ele evita encontrar comigo, nunca me dirigiu a palavra e na chegada do D. Hélder Câmara negou-me a mão.) Sei que você memorizou trechos dessa fala e sei que você jamais viu malícia na minha alma. Como o Pedro e o Milton insistiram ao ponto da impertinência, repito-me: "Senhor presidente Getúlio Vargas, eu lhe falo como presidente (...) tome afinal aquela deliberação, que é a última que um presidente, na sua situação, pode tomar. (...) E eu falo ao homem Getúlio Vargas e lhe digo: lembre-se da glória de sua terra (...) lembre-se homem, pelos pequeninos, pelos humilhados, pelos operários, pelos poetas."
Com as recomendações de Annah e os votos pela recuperação de Marly, deixa-lhe um abraço e a certeza da amizade, o seu,
Afonso.
Texto publicado no Globo de 5.8.09, disponível em http://oglobo.globo.com/pais/moreno/posts/2009/08/05/de-arinos-edu-para-sarney-gov-211357.asp

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